Caros amigos,
Continuando a reflexão.
Como é incrível que sempre haja gente por aí criticando o
desenvolvimento e os investimentos em ciência! Basta uma conquista da ciência,
e pronto: se põem a alardear suas críticas. Senão, vejamos: o CERN anunciou há pouco tempo a possível
descoberta do bóson de Higgs – para o que foi necessário um investimento de
bilhões de euros na construção do LHC; mais recentemente, a NASA anunciou o sucesso da aterrisagem da sonda
Curiosity em Marte – e os bilhões de dólares investidos na missão. Nas duas
ocasiões, apareceu gente para criticar o elevado custo com essas pesquisas,
dizendo que esse dinheiro poderia ser usado para matar a fome de muita gente,
para salvar o planeta, que temos assuntos mais importantes para nos preocupar a
gastar tempo e dinheiro em pesquisas que em nada (sic) são úteis à sociedade, à
humanidade, etc...
Parece muito bonito, tudo isso? Aos menos atentos, ler mensagens
assim pode causar até alguma emoção.
Bem, trago à tona novamente aquele tema discutido em uma mensagem
anterior deste blog, onde eu refleti sobre a
busca pelo conhecimento. Primeiro, a busca pelo conhecimento puro é algo
intrínseco à humanidade, em todas as épocas: o ser humano tem sede de
conhecimento, de saber, tem sede pela busca da verdade. Em segundo lugar –
ainda que isto não seja estritamente necessário para justificar a pesquisa em
ciência básica –, a pesquisa científica invariavelmente traz consigo, mais cedo
ou mais tarde, implicações em termos de desenvolvimento tecnológico, o que é muito
útil à sociedade. Mas lembremos que a conquista de novos conhecimentos já é
algo útil à toda a humanidade! Ou onde estaríamos nós agora, se nunca
tivéssemos evoluído na busca por conhecimento...?
Aos católicos, em particular, convido a uma reflexão adicional. Já é algo bem apreendido
em nossa fé, essa sede que tem o homem da busca pelo conhecimento; conforme bem
explicado por alguns documentos da Igreja, como a Constituição
Pastoral Gaudium et Spes e a Carta
Encíclica Fides et Ratio. Repito
mais adiante trechos destes documentos, alguns dos quais vocês já devem ter
lido aqui no blog antes... Mas é sempre bom relembrar aquilo que tem um
conteúdo importante. Já comentei também sobre a nossa natureza exploradora –
também explicitada em documentos da Igreja –, dom do próprio Deus, e de nossa
sede e maravilha em buscar o Criador, na contemplação das maravilhas da
criação!
Ademais, lembremos como a Igreja contribuiu e participou
ativamente, ao longo da história, da pesquisa científica, e de modo mais amplo,
da busca pelo conhecimento em todas as frentes: na ciência, na filosofia e na
teologia, assim como no diálogo entre as três.
Lembremos ainda como os Padres da Igreja, nos primeiros séculos desta,
foram "beber" também na filosofia dos antigos, fazendo uma nova leitura daquele
conhecimento, na busca por uma fundamentação também racional de nossa fé.
Voltando ao campo da ciência, lembremos ainda que a Igreja
fundou e mantém um dos observatórios astronômicos mais antigos do mundo, o Observatório do Vaticano! O mais
antigo, se considerarmos sua origem primeira... As pesquisas que os sacerdotes
cientistas fazem lá são em ciência básica. Isso mesmo, ciência básica e pura!
Afinal pesquisar as profundezas do universo, e sua evolução desde suas épocas
mais remotas, assim como pesquisar a formação e evolução das estrelas, galáxias
e sistemas planetários, é pesquisa básica. E quanto à Pontifícia Academia de Ciências, e à Pontifícia
Academia para a Vida? Será que aqueles que alardearam a tal mensagem citada
inicialmente, vão se por agora a criticar a Igreja e o Papa, por apoiar e manter
pesquisa básica...?
Logo, amigos, não vamos cair neste falso conto de achar que a
busca pelo conhecimento não é importante, e que o dinheiro gasto com a pesquisa
em ciência básica poderia ser usado para resolver os problemas da fome, da
ecologia, etc... Poderemos cair em um erro semelhante àquele dos que dizem que
a Igreja deveria vender “seus bens”, para matar a fome das pessoas, e resolver
os problemas disso e daquilo...
Claro que a busca pela solução de problemas como a fome e o mal
uso de recursos naturais é importante; mas não confrontando com a pesquisa em
ciência básica. Falsa premissa. Uma coisa não impede a outra.
Continua no próximo texto.
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