terça-feira, 4 de setembro de 2012

A busca pelo conhecimento (3)


Caros amigos,

Continuando a reflexão.

Como é incrível que sempre haja gente por aí criticando o desenvolvimento e os investimentos em ciência! Basta uma conquista da ciência, e pronto: se põem a alardear suas críticas. Senão, vejamos: o CERN anunciou há pouco tempo a possível descoberta do bóson de Higgs – para o que foi necessário um investimento de bilhões de euros na construção do LHC; mais recentemente, a NASA anunciou o sucesso da aterrisagem da sonda Curiosity em Marte – e os bilhões de dólares investidos na missão. Nas duas ocasiões, apareceu gente para criticar o elevado custo com essas pesquisas, dizendo que esse dinheiro poderia ser usado para matar a fome de muita gente, para salvar o planeta, que temos assuntos mais importantes para nos preocupar a gastar tempo e dinheiro em pesquisas que em nada (sic) são úteis à sociedade, à humanidade, etc...

Parece muito bonito, tudo isso? Aos menos atentos, ler mensagens assim pode causar até alguma emoção.

Bem, trago à tona novamente aquele tema discutido em uma mensagem anterior deste blog, onde eu refleti sobre a busca pelo conhecimento. Primeiro, a busca pelo conhecimento puro é algo intrínseco à humanidade, em todas as épocas: o ser humano tem sede de conhecimento, de saber, tem sede pela busca da verdade. Em segundo lugar – ainda que isto não seja estritamente necessário para justificar a pesquisa em ciência básica –, a pesquisa científica invariavelmente traz consigo, mais cedo ou mais tarde, implicações em termos de desenvolvimento tecnológico, o que é muito útil à sociedade. Mas lembremos que a conquista de novos conhecimentos já é algo útil à toda a humanidade! Ou onde estaríamos nós agora, se nunca tivéssemos evoluído na busca por conhecimento...?

Aos católicos, em particular, convido a uma reflexão adicional. Já é algo bem apreendido em nossa fé, essa sede que tem o homem da busca pelo conhecimento; conforme bem explicado por alguns documentos da Igreja, como a Constituição Pastoral Gaudium et Spes e a Carta Encíclica Fides et Ratio. Repito mais adiante trechos destes documentos, alguns dos quais vocês já devem ter lido aqui no blog antes... Mas é sempre bom relembrar aquilo que tem um conteúdo importante. Já comentei também sobre a nossa natureza exploradora – também explicitada em documentos da Igreja –, dom do próprio Deus, e de nossa sede e maravilha em buscar o Criador, na contemplação das maravilhas da criação!

Ademais, lembremos como a Igreja contribuiu e participou ativamente, ao longo da história, da pesquisa científica, e de modo mais amplo, da busca pelo conhecimento em todas as frentes: na ciência, na filosofia e na teologia, assim como no diálogo entre as três.

Lembremos ainda como os Padres da Igreja, nos primeiros séculos desta, foram "beber" também na filosofia dos antigos, fazendo uma nova leitura daquele conhecimento, na busca por uma fundamentação também racional de nossa fé.

Voltando ao campo da ciência, lembremos ainda que a Igreja fundou e mantém um dos observatórios astronômicos mais antigos do mundo, o Observatório do Vaticano! O mais antigo, se considerarmos sua origem primeira... As pesquisas que os sacerdotes cientistas fazem lá são em ciência básica. Isso mesmo, ciência básica e pura! Afinal pesquisar as profundezas do universo, e sua evolução desde suas épocas mais remotas, assim como pesquisar a formação e evolução das estrelas, galáxias e sistemas planetários, é pesquisa básica. E quanto à Pontifícia Academia de Ciências, e à Pontifícia Academia para a Vida? Será que aqueles que alardearam a tal mensagem citada inicialmente, vão se por agora a criticar a Igreja e o Papa, por apoiar e manter pesquisa básica...?

Logo, amigos, não vamos cair neste falso conto de achar que a busca pelo conhecimento não é importante, e que o dinheiro gasto com a pesquisa em ciência básica poderia ser usado para resolver os problemas da fome, da ecologia, etc... Poderemos cair em um erro semelhante àquele dos que dizem que a Igreja deveria vender “seus bens”, para matar a fome das pessoas, e resolver os problemas disso e daquilo...

Claro que a busca pela solução de problemas como a fome e o mal uso de recursos naturais é importante; mas não confrontando com a pesquisa em ciência básica. Falsa premissa. Uma coisa não impede a outra.

Continua no próximo texto.

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