sábado, 2 de março de 2019

Eclipses


Caros leitores, se vocês bem lembram, tivemos um eclipse lunar total no início deste ano – na noite entre os dias 20 e 21 de janeiro, para ser exato. O fato foi noticiado com alguma antecedência, o que permitiu que, aqueles que o quisessem, pudessem se programar para ver o eclipse. Eu, claro, como gosto de ciência, quis ver, e fiquei parte daquela madrugada acordado!

Alguns dias depois do ocorrido, encontrei na internet um texto um tanto estranho, de alguém supostamente religioso (católico), afirmando literalmente que “não se deve ver eclipses”, dando uma conotação como se houvesse algo de supostamente misterioso e danoso (sic) acerca destes fenômenos. O comentário citava que, sabiamente (sic), povos antigos evitavam ver eclipses... Muito assustado fiquei – não com os eclipses, obviamente, mas com tamanha esquisitice. Mais assustado ainda eu fiquei, lendo nos comentários ao texto de tal pessoa, outros tantos endossando esta interpretação, e mais justificativas da autora do texto.



Imagem meramente ilustrativa1.

Ora, todos sabemos que cada coisa deve ser julgada à luz do conhecimento que se tem a cada época. Se povos antigos ficavam assustados com eclipses, ou atribuíam um sentido maior aos mesmos, como se isto significasse “mau presságio”, ou também atribuíssem um sentido figurado ao eclipsar (ocultação) da luz e uma exaltação das trevas, é óbvio que tal interpretação devia-se à falta de conhecimento dos povos acerca destes fenômenos naturais. Não cabe mais, atualmente, comportar-se da mesma forma que povos primitivos, quando já se tem o conhecimento e a explicação para os fenômenos naturais de que se tratam os eclipses, tanto o lunar quanto o solar.

Não há nenhuma orientação da Igreja sobre evitar ver eclipses, ou sobre uma suposta ocorrência de um eclipsar do bem e exaltação do mal, durante tais fenômenos; ou que houvesse maior susceptibilidade ao mal durante sua ocorrência. A respeito de advertências deste tipo, há sim, na Igreja, quanto ao envolvimento com ocultismo, adivinhação, e coisas semelhantes. Já comentamos sobre isso em postagem anterior; mas isto é outra coisa, e tem fundamento.

Cabe lembrar que a Igreja não tem medo da ciência, nem a rejeita – desde que seja conduzida dentro da ética e da moral, e que não seja (mal) usada no sentido de tentar deixar Deus de fora da história. Se, ao fazer ciência, buscamos sinceramente a verdade, somos como que conduzidos por Deus (cf. Gaudium et Spes, 36).

Outro fato interessante é que este fenômeno, ocorrido em janeiro último, foi noticiado por colunistas do site do Observatório do Vaticano. Se hoje entendemos do que se tratam os eclipses lunar e solar, é porque cientistas dedicaram-se a observa-los e a estuda-los. Se fosse errado  do ponto de vista católico  observar eclipses, o Observatório do Vaticano, e a Igreja em geral, deveriam ter feito advertências. Claro, como não há problemas em se fazer observações astronômicas, incluindo eclipses, não há advertência nenhuma, nem no site do Observatório, em nenhum outro documento ou pronunciamento da Igreja!

Imagino que, quando muito, alguém pudesse aproveitar o sentido figurado da “imagem” de eclipses, e discorrer sobre a necessidade de se fazer o bem e evitar o mal, por exemplo. Mas jamais alertar as pessoas de que “não se deve ver eclipses”!

Caríssimos, tenhamos equilíbrio no uso das coisas. Não podemos ser cientificistas nem fideístas; não podemos rejeitar nem a fé, nem a razão! Na vivência da fé católica, não cabem desequilíbrios. Cada coisa no seu devido lugar.

Espero ter esclarecido. Até a próxima postagem, se Deus quiser!


PS: Infelizmente, o blogue teve pouca atividade nestes últimos tempos, em pouco mais de um mês. Logo, tanto este assunto, como outros interessantes que surgiram neste meio-tempo, ficaram para ser resolvidos agora. Mas, antes tarde, a nunca aborda-los.


1Montaje en un gif animado del eclipse lunar del día 3-4 de marzo de 2007 tomado desde Medina del Campo, Valladolid, España”, autor: Locutus Borg.

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