domingo, 5 de maio de 2013

Pe. Roberto Landell de Moura: inventor das comunicações sem fio


Amigos,

Dia desses, eu assisti a um programa de divulgação científica sobre telefonia celular e, em determinado momento, comentaram sobre o Pe. Landell de Moura... Não preciso nem dizer que ideias já começaram a pulular, para escrever algo sobre este padre inventor, que era brasileiro!

Todos nós aprendemos que o italiano Guglielmo Marconi teria sido o inventor das comunicações sem fio. O que poucos sabem é que aqui no Brasil, mais ou menos pela mesma época, um padre fazia experimentos sobre o mesmo tema e – pasmem – conseguiu o feito antes de Marconi! Infelizmente, o nome de Marconi ficou na história como o inventor da transmissão por rádio, e o do Pe. Landell de Moura ficou praticamente no esquecimento...

Pe. Landell de Moura nasceu em 1861, em Porto Alegre, RS. Em 1879, veio morar no Rio de Janeiro, a fim de estudar na real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho; porém, ficou por pouco tempo. Decidiu seguir o sacerdócio, e foi para Roma com seu irmão, Guilherme, tendo ambos estudado na Universidade Gregoriana. Pe. Landell de Moura Foi ordenado em 1886. Durante sua estadia em Roma, realizou estudos também em exatas.


Pe. Roberto Landell de Moura.
 
Retornando ao Brasil, manteve contado com D. Pedro II, que se interessava pelo tema da transmissão do som – interesse que já vinha desde a invenção do telefone por Graham Bell. Pe. Landell de Moura começou a montar seu equipamento em 1892, tendo realizado, publicamente, a primeira transmissão em 1894, em São Paulo, através de uma distância de oito quilômetros! Marconi realizou seu experimento em 1895.
Pe. Landell de Moura obteve uma patente no Brasil, em 1900, e três nos Estados Unidos, entre 1903 e 1904, estas últimas por três inventos: transmissor de ondas, telefone sem fio e telégrafo sem fio. Pe. Landell de Moura chegou a idealizar também outros aparatos, como controle remoto e uma forma de transmitir imagens – algo que trata-se dos primórdios da televisão. Como se isso tudo não fosse suficiente, ele ainda predisse que poderíamos chegar a ter comunicações interplanetárias! Obviamente, à época, tudo isso parecia absurdo – especialmente a última proposta, de comunicação interplanetária... Mas hoje vemos que ele era um visionário; afinal, lembremos de quando o Pathfinder foi enviado a Marte, na década de 1990, que se comunicava com a base na Terra por... comunicações sem fio, obviamente! Isso sem falar nas comunicações durante as idas do homem à Lua, a partir de 1969. Pe. Landell de Moura realizou estudos também sobre a transmissão de informação, sem fio, por meio de feixes luminosos.
De volta ao Brasil, em 1905,  Pe. Landell de Moura solicitou ao então Presidente da República dois navios para demonstrar seus inventos, o que foi negado... Desiludido, o padre acabou por abandonar seus estudos e experimentos. Já fora do Brasil... Marconi, que também realizava estudos e experimentos semelhantes, acabou levando a fama. Algum tempo depois, a comunicação via rádio tornou-se uma realidade. Obviamente que era realidade desde os antigos experimentos; porém, então, uma realidade em nível industrial e comercial.
É uma pena que Pe. Landell de Moura tenha ficado no esquecimento. Mas há algumas pessoas que ajudam a difundir essa informação, a bem da justiça. E... mais uma vez, temos aqui um padre com vocação também para assuntos de ciência e tecnologia! Como ainda falar de incompatibilidade entre ciência e fé...?
Em 2012, Pe. Roberto Landell de Moura teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, por Decreto Presidencial.
Para maiores detalhes sobre os trabalhos do Pe. Landell de Moura, sugiro consultar a referência:
- Alencar, Marcelo Sampaio de; Lopes, Waslom T. A.; Alencar, Thiago T.; “O Fantástico Padre Landell de Moura e a Transmissão sem Fio”. Anais do 10º Seminário Nacional de História da Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, 2005.
PS: Quando eu cito uma referência de origem não católica, é para divulgar somente conteúdo que não tenha a ver com nossa fé. Quando, nessas referências, houver comentários sobre nossa fé, sobre a Igreja, atenção! Nem sempre têm o devido compromisso com nossa fé (não é o objetivo de seus autores). Logo, passem adiante de eventuais “alfinetadas” contra a Igreja; sabemos o quanto alguns gostam de fomentar uma suposta oposição da Igreja à ciência, que é falsa, como já sabemos. Para um comentário mais detalhado, queiram acessar texto anterior sobre esse assunto.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Divulgação de cursos de Física


Amigos,

Vocês, que acompanham o blog, já devem ter lido alguns textos com conteúdo mais direcionado para temas sobre física e astronomia. O objetivo do blog está mais no diálogo entre ciência e fé, mas de vez em quando precisamos dar uma ênfase maior em ciências, até mesmo para auxiliar na nossa reflexão.

Pois bem, aproveito então para divulgar alguns cursos sobre física, ministrados para o público em geral. Os primeiros que anuncio, vêm ocorrendo na UFRJ, sob a organização do Espaço Alexandria: Introdução à Relatividade, e Mecânica Quântica. O primeiro vem ocorrendo todas as segundas-feiras, das 12 às 13 h; e o segundo, todas as sextas-feiras, no mesmo horário. Ambos tiveram início há pouco tempo, portanto, ainda dá tempo de começar a frequentar. Após os horários, os palestrantes costumam responder a perguntas dos ouvintes, de modo que se pode recuperar alguma informação perdida dos primeiros dias dos cursos. Segue um link com informações básicas (incluindo a localização) sobre o primeiro curso, Introdução à Relatividade, onde há um resumo em “pdf”; o outro curso ocorre no mesmo local. Quem tem interesse por estes assuntos, e gostaria de aprender de uma forma acessível, participe!

Há poucos dias vi um anúncio de outro curso, Falando de Física, desta vez ministrado no Planetário do Rio de Janeiro. O curso ocorrerá em maio. Também deve ser muito interessante, e curiosamente trata sobre os mesmos assuntos: teoria da Relatividade e Mecânica Quântica!

Destaco que o fato de citar links destas Instituições, não significa que estas endossem o que eu escrevo no blog.

Bem, é isso. Como não se maravilhar pela aventura de desvendar os segredos da natureza, da criação? Bom proveito, e até a próxima!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

DNA, Genoma Humano e os “dois Francis”


Amigos,

Há poucos dias (25/04/2013), a comunidade científica comemorou os 60 anos da descoberta da estrutura em dupla hélice do DNA. Em 1953, dois cientistas, Francis Harry Comptom Crick (ou simplesmente Francis Crick) e James Watson, publicaram um artigo na revista científica Nature – uma das mais prestigiosas do mundo, ao lado da Science –, sobre o modelo por eles proposto para a molécula do DNA. Seu trabalho foi baseado em experimentos realizados por outros dois cientistas, Maurice Wilkins e Rosalind Franklin. Mais tarde, em 1962, Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, por sua descoberta; a essa época, Rosalind Franklin já havia falecido.

Francis Crick, físico de formação, mudou o foco de seus trabalhos, ao retornar à pesquisa após a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma grande descoberta, obviamente. Hoje, a comunidade científica está bem avançada em pesquisas sobre genética e biotecnologia. Podemos dizer que a descoberta daqueles cientistas foi um grande passo para o estágio em que hoje este conhecimento se encontra.

Segue uma imagem do modelo do DNA construído por Crick e Watson.


Modelo do DNA, construído por Crick e Watson em 1953, e reconstruído em 1973; National Science Museum of London.

Mas onde eu quero chegar, exatamente? Atualmente, há outro grande cientista trabalhando em biotecnologia, que curiosamente também chama-se Francis: trata-se de Francis Collins, diretor do Projeto Genoma Humano, um gigantesco projeto que teve como objetivo desvendar o código genético humano. Em 2001, este Projeto chegou à decodificação de 97 % do nosso genoma, percentual que chega atualmente a 99,99 %! Logo, aproveito o período de comemoração da descoberta da estrutura em dupla hélice do DNA, para comentar sobre a convergência entre ciência e fé que encontramos em Francis Collins. Vejamos.

Já estamos acostumados à falsa oposição que se faz entre ciência e fé, que tanto ouvimos na época da escola, e com a qual nos deparamos, ainda hoje, nos meios de comunicação. Pois bem, aqui está a opinião de um grande cientista: Francis Collins. Segue uma declaração sua:

“(...)Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. (...)”.

Eu não precisaria dizer mais nada, não é mesmo?

Bem, amigos, podemos fazer algumas observações a respeito de ciência e fé: (1) o ateísmo, e não a ciência, é contrário à fé em Deus; (2) ser cientista nada tem a ver com ser ateu, não impede ter fé em Deus; (3) da ciência não se tira nenhuma conclusão contra Deus, uma vez que ciência atua em outra esfera de estudo: desvendar os segredos da natureza; (4) o ateísmo é uma grande cegueira, de quem rejeita Deus, não é uma conclusão de quem é estudioso: temos aqui um exemplo de um grande estudioso, Francis Collins, que crê em Deus!

Gostaram? Então, que tal ajudarem a dissipar este grande equívoco, que é a “suposta oposição” entre ciência e fé?

Até a próxima, com a graça de Deus!

Sugestões de leitura:

- Francis Collins, A Linguagem de Deus, Editora Gente, 2007.

- Entrevista de Francis Collins publicada na revista Veja, em janeiro de 2007.


Para informações básicas sobre Francis Crick, podem ser consultadas páginas a ele dedicadas na Wikipedia – que eu mesmo consultei para escrever a primeira parte deste texto.