terça-feira, 4 de setembro de 2012

A busca pelo conhecimento (4)


Caros amigos,

Última parte da reflexão.

Seguem trechos de documentos da Igreja que tratam sobre o presente tema, com comentários quando for o caso. As abreviações FR e GS referem-se a Fides et Ratio e Gaudium et Spes, respectivamente:

“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33,8; Sl 27/26,8-9; 63/62,2-3; Jo 14,8; 1Jo 3,2).” (Fides et Ratio).

FR 48: “A razão privada do contributo da Revelação percorre sendas marginais, com o risco de perder de vista a sua meta final. A fé privada da razão põe em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta, não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a radicalidade do ser.”

Amigos, nossa fé não se faz com uma maior evidência do sentimento e da experiência (experiência no sentido que a Fides et Ratio destaca, no trecho acima). Certas coisas podem despertar muito os sentimentos, as emoções; o que não significa necessariamente, que seja algo útil à nossa fé; não vivemos somente de emoções. Muito menos ainda, pode a nossa fé ser reduzida a mito ou superstição...

Aliás, dizer que pesquisa em ciência básica é desnecessária, e “desvia” dinheiro que poderia ser gasto para matar a fome dos outros, é realmente um mito... como o é também, achar que a Igreja deveria vender “seus bens”... Nossa fé nada tem a ver com mito.

FR 22: “...o Apóstolo [São Paulo] exprime uma verdade profunda: por meio da criação, os ‘olhos da mente’ podem chegar ao conhecimento de Deus. Efetivamente, por meio das criaturas, ele faz intuir à razão o seu ‘poder’ e a sua ‘divindade’ (cf. Rm 1,20). Desse modo, é atribuída à razão humana uma capacidade tal que parece quase superar os seus próprios limites naturais: não só ultrapassa o âmbito do conhecimento sensorial, visto que lhe é possível refletir criticamente sobre o mesmo, mas, raciocinando a partir dos dados dos sentidos, pode chegar também à causa que está na origem de toda a realidade sensível...”

FR 4: “Impelido pelo desejo de descobrir a verdade última da existência, o homem procura adquirir aqueles conhecimentos universais que lhe permitam uma melhor compreensão de si mesmo e progredir na sua realização. Os conhecimentos fundamentais nascem da maravilha que nele suscita a contemplação da criação(...) Parte daqui o caminho que o levará, depois, à descoberta de horizontes de conhecimentos sempre novos. Sem tal assombro, o homem tornar-se-ia repetitivo e, pouco a pouco, incapaz de uma existência verdadeiramente pessoal.”

Sem tal assombro... o que seria de nós...?

FR 25: “ ‘Todos os homens desejam saber’1, e o objeto próprio desse desejo é a verdade.”

1Aristóteles, Metafísica, I, 1.

FR 21. “E a força para continuar o seu caminho rumo à verdade provém da certeza de que Deus o criou como um ‘explorador’ (cf. Ecl 1,13),...”

Somos exploradores, e isto nos impele a desbravar o conhecimento!

GS 36: “Se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda: Aquele que tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são.”

GS 15: “Participando da luz da inteligência divina, com razão pensa o homem que supera, pela inteligência, o universo. Exercitando incansavelmente, no decurso dos séculos, o próprio engenho, conseguiu ele grandes progressos nas ciências empíricas, nas técnicas e nas artes liberais. Nos nossos dias, alcançou notáveis sucessos, sobretudo na investigação e conquista do mundo material. Mas buscou sempre, e encontrou, uma verdade mais profunda. Porque a inteligência não se limita ao domínio dos fenómenos; embora, em consequência do pecado, esteja parcialmente obscurecida e debilitada, ela é capaz de atingir com certeza a realidade inteligível.”

GS 57: “...dedicando-se às várias disciplinas da história, filosofia, ciências matemáticas e naturais, e cultivando as artes, pode o homem ajudar muito a família humana a elevar-se a concepções mais sublimes da verdade, do bem e da beleza e a um juízo de valor universal, e ser assim luminosamente esclarecida por aquela admirável sabedoria, que desde a eternidade estava junto de Deus, dispondo com Ele todas as coisas, e encontrando as suas delícias em estar com os filhos dos homens”. (Cf. Prov 8,30-31).

Esse último trecho, realmente, é de fazer arder o coração! Dissipa toda e qualquer crítica generalizada (e infundada) à busca pelo conhecimento (destaco as ciências matemáticas e naturais, mais afins à discussão presente).

Boa reflexão, e até a próxima.

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