Amigos,
Continuando
nossa conversa sobre milagres, comento agora sobre como a Igreja avalia os
fatos tidos como milagrosos. Antes, porém, quero fazer um comentário sobre
experiências que vemos no nosso dia-a-dia.
Às
vezes ouvimos algumas pessoas comentando por aí que certo caso foi milagre; que
ficou curada de uma doença após dirigir preces a Deus – ainda que por
intercessão de algum santo (ou que ainda não seja santo; afinal, as curas assim
obtidas podem servir para a beatificação ou canonização de alguém) –, e recebeu
o milagre da cura da doença... Bem, precisamos ter calma, porque a Igreja não
sai por aí alardeando qualquer cura como milagre... Antes, ela submete o caso a
uma rigorosa avaliação, e somente caso não haja outra explicação natural, aí
sim, ela declara o milagre.
Bem,
sabemos que as pessoas que consideram praticamente qualquer cura que recebem como
milagre, não o fazem por mal, obviamente, mas por falta de conhecimento. Claro
também que, mesmo não sendo a cura milagrosa, mas natural, ainda assim é graça
de Deus! Afinal, quantos ficam doentes, e mesmo com toda a medicina não conseguem
ficar curados? Logo, quando se obtém uma cura, nada mais justo do que dar
graças a Deus. Devemos lembrar também que, mesmo quando alguém não obtém a
cura, não significa que não tenha a graça de Deus; lembremos do Papa João Paulo
II! A graça de Deus pode se manifestar de diversas formas: se não for a cura e
salvação do corpo, pode ser cura de caráter emocional ou espiritual, e a
salvação, em última instância, desejamos que seja para a vida eterna, ainda que
a pessoa pereça com uma doença!
Bem,
dito isso, vamos agora à forma como a Igreja avalia supostos milagres. Os casos
que chegam ao Vaticano, são submetidos a uma equipe de médicos (são mais de
70!) Por que isso? A Igreja entende que muitas das doenças podem ser curadas
pela medicina, e portanto, têm explicação científica: nesses casos, ela não os
declara como milagres. Porém, nos casos (que não são muitos) em que a Igreja,
após o crivo científico, avalia que não há explicação natural para a cura, nem há
chance de haver explicação natural no futuro, aí sim ela os declara como
milagres. Vejamos as condições para que uma cura seja considerada milagrosa:
1)
Historicidade do fato: A Igreja não trabalha sobre casos fantasiosos; o caso
deve ser fato ocorrido realmente. Essa análise é realizada por peritos no
próprio local onde houve o suposto milagre; e já elimina muitos falsos alarmes.
2)
O fato deve ser extraordinário, ou seja: deve ser absolutamente inexplicável
pela ciência, e também deve ser eliminada a possibilidade de que venha a ser assim
explicado futuramente.
3)
O fato deve ter ocorrido em circunstâncias dignas de Deus, ou seja: uma resposta
genuína de Deus aos fiéis que o imploravam.
Para
ilustrar o rigor da Igreja ao avaliar um suposto milagre, podemos citar o
Centro de Avaliações Médicas (Bureau des Constatations
Médicales), em Lourdes, na
França, que avalia supostos milagres ocorridos durante peregrinações à Gruta de
Massabielle (onde ocorreu a Aparição de Nossa Senhora). Caso o suposto fato passe
pelo crivo deste centro, é submetido a outro, uma Comissão Médica
Internacional, formada por especialistas de diversas orientações religiosas ou
filosóficas. Vamos aos números1: das cerca de 5.000 curas avaliadas
em Lourdes, menos de cem foram proclamadas como milagrosas!
1Números obtidos do livro de Felipe Aquino,
citado ao final desse texto.
De
forma semelhante, há outro centro em Fátima, Portugal, com a mesma finalidade.
Os médicos, em qualquer desses centros, trabalham de forma independente, ou
seja, completamente livres de qualquer influência por parte da Igreja. Isso
porque a Igreja precisa avaliar, com máxima responsabilidade, os casos que são
VERDADEIRAMENTE resultantes da ação Divina, ou seja, que ocorreram de forma
extraordinária.
As
curas obtidas de forma ordinária (natural), também são motivo de alegria, e
graças damos a Deus por elas. Porém, não se tratam de intervenção Divina
direta. Antes, damos graças a Deus por ter chamado tantas pessoas às profissões
da área da saúde, para que, com dedicação, competência e amor à profissão e ao
próximo, conseguissem os avanços tanto no diagnóstico quanto no tratamento das
diversas doenças. Lembremos que, no Antigo testamento, já há uma menção aos
médicos (cf. Eclo 38,1-15).
Entendem
a seriedade da Igreja, quando fala em milagres? Percebem agora por que não se
trata de algo que qualquer um possa sair por aí achando que é milagre, por sua
própria conta e risco?
Como
é bela a Igreja! Quantas maravilhas vamos descobrindo sobre ela, e como fica
tudo mais claro ao nosso entendimento, quando buscamos a orientação que ela nos
propõe, como Mãe que quer bem aos seus filhos!
Até
a próxima, com a graça de Deus!
Leitura
recomendada:
-
Felipe Aquino, Ciência e Fé em harmonia,
Editora Cléofas, 2004.
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