sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Ciência e Fé: um diálogo possível e necessário

Caros leitores do blogue,

Diálogo entre ciência e fé: um assunto sempre oportuno. Sabemos que há uma tentativa de criar uma ruptura entre ciência e fé, e isso vem ocorrendo de longa data, já desde o Iluminismo. Porém, é necessário ressaltar que tal ruptura não possui um fundo de verdade, sendo, porém, fruto de ideologias e rejeição à fé e a Deus mesmo, por parte de movimentos que vêm ocorrendo desde então. Logo, é sempre necessário retornarmos a esta questão, para dissipar quaisquer dúvidas e mitos sobre uma suposta oposição ou incompatibilidade entre ciência e fé.

A história mostra que, durante a Idade Média, muito do conhecimento e desenvolvimento que deu origem à Civilização Ocidental, teve protagonismo da Igreja, tendo sido "gestada" dentro dos mosteiros, principalmente. Muitos homens da ciência eram religiosos e/ou sacerdotes, ou cientistas que não tinham problemas de conflito entre sua atividade científica e sua fé. Durante a Idade Média, a Igreja deu origem a universidades, contribuiu com pesquisas científicas, e promovia a busca pelo conhecimento, de forma integral: aliando ciência, filosofia, religião, ciências humanas,... sem rupturas.

Sabemos que houve uma polêmica, em particular, relacionada à questão do Heliocentrismo versus Geocentrismo, porém não exatamente como costuma ser alardeado por aí. Copérnico foi clérigo (o que, via de regra, é omitido pelos propagadores da suposta oposição ou incompatibilidade entre ciência e fé), Galileu Galilei era, inicialmente, muito próximo ao Papa Urbano VIII; também não foi jogado na fogueira, não foi nenhum mártir... morreu católico, e recebendo os sacramentos. Há que se buscar, honestamente, a verdade nos fatos, sem viés ideológico e sem preconceitos.

Citemos alguns fatos como exemplo da frutuosa atuação da Igreja em relação à ciência:

1) Como já comentado, Copérnico foi um clérigo;

2) A mudança do calendário Juliano para o Gregoriano teve à frente o Padre Christophorus Clavius, Jesuíta, e também matemático;

3) Mendel, que descobriu as leis básicas da genética, através dos experimentos com ervilhas, foi um sacerdote Agostiniano, que fez suas experiências nos jardins do Mosteiro em que habitava;

4) A teoria do Big Bang foi proposta por um Padre Jesuíta com doutorado em ciências pelo famoso MIT, o Pe. Georges Lemaître;
Obs.: A União Astronômica Internacional (IAU) reconheceu recentemente a co-autoria do Pe. Lemaître, SJ, na lei de Hubble, que deve ser renomeada para lei de Hubble-Lemaître;

5) Há 35 crateras na Lua com nomes de Jesuítas que atuaram em ciências - principalemnte astronomia;

6) O Observatório do Vaticano, um observatório astronômico, tem seu corpo de cientistas formado por padres, em sua grande maioria religiosos Jesuítas; com seus doutorados em cursos diversos das ciências, que fazem pesquisas científicas, publicam-nas em periódicos, e trabalham com divulgação científica, especialmente sobre as relações entre ciência e religião;

dentre diversos outros exemplos que podem ser pesquisados.

Logo, algumas conclusões podem ser estabelecidas:

1) Não há conflito verdadeiro entre ciência e fé;

2) A Igreja, a religião, de modo mais geral, não são, de fato, inimigas da ciência, muito pelo contrário!

3) Ciência e fé são campos distintos de conhecimento: o primeiro (assim como a filosofia), alcançado pelo exercício da razão humana em tentar desbravar a verdade; o segundo, obtido pela Revelação Divina;

4) Ciência não serve para explicar verdades de fé;

5) Fé não serve para explicar fenômenos científicos;

6) A despeito das observações dos três itens anteriores, ciência e fé podem estabelecer um frutuoso diálogo.

Como bem explicou o Papa São João Paulo II, em sua Carta Encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), de 1998: 

“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33,8; Sl 27/26,8-9; 63/62,2-3; Jo 14,8; 1Jo 3,2).”

Desfazendo mitos:

1)  Ciência e Fé não se misturam:

O que se pode afirmar é que constituem campos distintos: uma não pode ser usada para explicar fatos do campo da outra. Porém, não são contrárias ou "inimigas" uma da outra. Há um bom diálogo entre ambas (o Observatório do Vaticano é prova cabal disso, do contrário, sua existência não seria possível...).

2) A Fé pode "tomar" o lugar da ciência (ou vice-versa), como que de forma a competirem uma com a outra, para não deixar que a outra "tome espaço" na tentativa de explicar a verdade das coisas.

Não é possível isso. Para citar alguns exemplos:

a) Não faz sentido colocar em "competição" a teoria do Big Bang (ou qualquer outra que viesse a assumir o seu lugar) e a narrativa Bíblica da Criação, conforme em Gênesis;

b) ou a teoria da Evolução e a mesma narrativa Bíblica em Gênesis para a criação do ser humano e dos outros seres vivos.

A Bíblia não é uma descrição científica da criação; tem como objetivo a transmissão de verdades de fé acerca da criação; não pode ser entendida de forma literal (mundo criado em sete dias de 24 h, homem criado a partir do barro,...). Aliás, há duas narrativas da criação, em Gênesis; se alguém tentar entender de forma literal, como fica...?

Por outro lado, não é possível usar a teoria da Evolução (ou qualquer outra que viesse a assumir o seu lugar), para negar a ação Divina na criação; a teoria busca explicar como as espécies teriam evoluído, a criação está fora de seu escopo. A Igreja Católica não se coloca contra a teoria da Evolução, exceto quando esta é usada para tentar negar Deus, obviamente.

Neste sentido também, assim como a teoria da Evolução das Espécies visa tentar explicar como as espécies teriam evoluído ao longo do tempo, também a teoria do Big Bang visa explicar como o Universo teria evoluído: ela não alcança o "instante zero" (no qual toda a física falha!).

Caríssimos: não caiamos nessas falácias de tentar negar a fé com base (sic) na ciência; ou em rejeitar a ciência com base (sic) na fé. De fato, não há qualquer base para uma coisa nem outra. Lembremos dos alertas do Papa São João Paulo II na Encíclica Fé e Razão, contra o racionalismo e o cientificismo (rejeitar a fé, apostando tudo na razão ou na ciência), e contra o fideísmo (negar a razão, apostando tudo em uma fé ingênua). Usemos as "duas asas" (fé e razão), que são dois dons dados por Deus a nós; não desprezemos um nem outro.

Espero ter ajudado a esclarecer, mais uma vez.

O blogue tem diversos outros textos e vídeos explicando melhor cada um dos temas citados neste. Fiquem à vontade para "navegar" pelo blogue!

Até a próxima!

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