domingo, 18 de agosto de 2013

Homens da Igreja, eletricidade e magnetismo


Amigos,

Estou lendo um livro muito interessante que trata sobre a história do magnetismo; logo, é um livro1 de divulgação científica sobre história da ciência, não é uma fonte da Igreja. Conforme eu já comentei antes, uso essas fontes para questões científicas apenas. É muito interessante ver citações de homens da Igreja que contribuíram de alguma forma com a ciência, em um livro que não possui, em princípio, nenhuma ligação com nossa fé, com a Igreja; é um bom testemunho!

Este livro cita, por exemplo, três autores que colaboraram com a área do magnetismo, na Idade Média: Alexander Neckam, Guyot de Provins e Jacques de Vitry. Os três são considerados pioneiros, no mundo ocidental, em citar o uso da bússola. Vejamos alguns detalhes sobre cada um deles.

Alexander Neckam (1157-1217), inglês, foi um estudioso, nos campos da teologia e em outros, como história natural. Foi professor em universidades europeias, e tornou-se Agostiniano, tendo sido nomeado Abade em Cirencester. Entre suas obras, podemos citar De nobinimus utensilium e De naturis rerum – respectivamente “Sobre os nomes dos utensílios” e “Sobre a natureza das coisas”. Em ambas, ele comenta sobre o uso da bússola.

Guyot de Provins (1184-1210), francês, da época do imperador Frederico I, tornou-se monge da ordem religiosa de Cluny. Escreveu um poema chamado La Bible, onde cita o uso da bússola em navegação.

Jacques de Vitry (~1165-1240), também francês, era sacerdote, tendo sido também ordenado bispo, e feito cardeal pelo Papa Gregório IX. Escreveu a obra Historia orientalis Hierosolymitana – “História oriental de Jerusalém” –, na qual cita também a bússola.

Além destes, podemos citar também Guilherme d’Auvergne (~1180-1249), que se tornou bispo de Paris em 1228. Escreveu a obra De universo creaturarem – “Sobre o universo de criaturas” –, no qual descreve o que depois foi estudado como a indução magnética, fenômeno que ele verificou notando como um pedaço de ferro atraído por um ímã era capaz de atrair outro pedaço de ferro.

Outro homem da Igreja a interessar-se por magnetismo foi João de Santo Amando (1261-1298), médico e cônego em Tournai, na Bélgica. Ele foi o pioneiro na ideia de que a Terra é um gigantesco íma, conforme comentado em sua obra Expositio sive additio super antidotarium Nicolai – “Um comentário sobre o antidotário de Nicolau” (de Salerno). Nisto, precedeu o famoso cientista sobre magnetismo, William Gilbert.

O frade Dominicano Vincent de Beauvais (~1190-1264?) faz também referência ao magnetismo em sua obra Speculum naturale, onde descreve os polos magnéticos.

Devemos citar também o interesse de grandes homens da Igreja, por magnetismo – entre tantos outras áreas do conhecimento; entre eles: Santo Agostinho (354-430), Santo Isidoro de Sevilha (~560-636), Santo Alberto Magno (~1200-1280) e São Tomás de Aquino (~1225-1274).

Podemos citar ainda Nicolau de Cusa (1401-1464), alemão, que tornou-se cardeal em 1450, que, em sua obra Exercitationes, compara a bússola a Cristo, pois ambos mostram o caminho ao homem, e derivam seu poder do céu.

Quanto à eletricidade, podemos citar o Jesuíta Niccolo Cabeo (1586-1650), que publicou a obra Philosophia magnética, na qual estudou o magnetismo terrestre, tendo por base a obra de William Gilbert; e também descreveu a observação do fenômeno de repulsão elétrica entre corpos com cargas de mesma polaridade – fenômeno que foi depois observado também por Isaac Newton, e discutido pelo físico alemão Otto von Guericke. Niccolo Cabeo foi um dos Jesuítas que tiveram seus nomes dados a crateras da Lua.

Ewald Georg von Kleist, administrador e clérigo, na Pomerânia, Prússia, inventou a garrafa de Leiden, aproximadamente à mesma época que outro cientista, o físico Pietr van Musschenbroek, no século XVIII. Este dispositivo é uma máquina eletrostática, e servia para armazenar carga elétrica, podendo ser considerado o precursor do capacitor – tão usado atualmente.

Bem, amigos, fico por aqui. Qualquer novidade quanto a este assunto, acrescento aqui mesmo e publico a modificação, ou escrevo outro texto – dependendo da quantidade de material novo. Como ainda estou lendo este livro, pode ser que surjam mais novidades.

Espero que tenham gostado, e até a próxima!

 

1 Alberto Passos Guimarães, A pedra com alma – A fascinante história do magnetismo, Ed. Civilização Brasileira, 2011.

Obs: Para escrever este texto, me baseei também em outro material: Vincent Courtillot e e Jean-Louis Le Mouël, “The study of Earth’s magnetism (1269-1950): A foundation by Peregrinus and subsequent development of geomagnetism and paleomagnetism”, Reviews of Geophysics, V. 45, N. 3, 2007.

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