Caros leitores,
A
fé da Igreja atesta que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Divino,
consubstancial ao Pai, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez carne: se
fez homem, assumindo nossa humanidade em tudo, exceto no pecado, para nos
resgatar. Logo, tendo assumido um corpo humano, Jesus também tinha as mesmas
sensações que nós: frio, calor, dores, fome, sede,... Lembremos do período que
Jesus passou no deserto, jejuando, antes de iniciar sua vida pública.
Em sua Paixão e Morte, Jesus passou por um grande sofrimento físico,
devido à crueldade dos castigos que sofreu. Houve as chibatadas, a coroação com
a coroa de espinhos, a ida ao calvário e a crucificação. As chibatadas, durante
a flagelação, eram dadas com chicotes dotados de objetos contundentes e o/ou pontiagudos
em sua extremidade, como pedaços de chumbo ou de ossos de animais, que chegavam
a causar ferimentos não só na pele do castigado, como também ferimentos mais profundos.
A
planta da qual os soldados teceram a coroa possui espinhos de grande tamanho e
muito pontiagudos, que causam grande dor, particularmente a quem recebe uma
coroa feita destes espinhos, cravada na cabeça... sem contar que os estudos indicam que a coroa teria tido um formato de "capacete", e não de arco, como comumente retratado.
Uma
dica: o filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, dá uma ideia de quão cruento
foi o sofrimento de Jesus.
Consideremos
também que Jesus, após ter sofrido enormemente durante a flagelação e a coroação
de espinhos, teve que carregar a sua cruz até o calvário, e com as costas muito feridas, além da exaustão física.
O
sofrimento de Jesus culminou com a crucificação, cujos efeitos no corpo humano
são de uma crueldade sem tamanho. Pelo que indicam os estudos sobre o assunto,
os cravos foram provavelmente pregados nos punhos e nos pés, nas regiões
denominadas carpo e metatarso, respectivamente. Em ambos os casos, há
espaçamentos entre os ossos, por onde é possível transpassar objetos como os
cravos, sem quebra-los. Estas perfurações, entretanto, causam
grande dores e contraturas musculares, uma vez que esgarçam os tendões nestas
regiões.
A
cruz é um suplício terrível, pois, o corpo, pendurado sob o próprio peso pelos
braços, faz o tórax abrir-se, enchendo os pulmões de ar. O crucificado sofre
por não conseguir expirar o ar, que se acumula nos pulmões, com maior concentração de gás carbônico, dificultando a
troca gasosa necessária à vida: o efeito é a falta de oxigenação, ou seja,
asfixia. Para conseguir trocar o ar dos pulmões, o crucificado precisava fazer grande
esforço com os braços para erguer o corpo, e assim fechar o tórax, expirando, para inspirar ar novo em seguida. A falta de oxigenação causa também acúmulo de
líquido na base dos pulmões; também causa contraturas musculares pelo corpo, devido à concentração de ácido carbônico nos tecidos.
Vale
lembrar que Jesus pronunciou algumas palavras enquanto pendia da cruz. Para
falar, Jesus precisava realizar o esforço descrito anteriormente; e o fez,
inclusive, para pedir ao Pai que perdoasse seus algozes, porque não sabiam o
que estavam fazendo...
Com
o passar do tempo, tal tarefa tornava-se cada vez mais difícil, levando o
crucificado a uma falta de oxigenação cada vez mais crítica, até que, não
conseguindo mais respirar, acaba indo a óbito.
Após
sua morte, Jesus teve o lado direito de seu peito transpassado por uma lança, que atingiu seu coração, fazendo jorrar sangue e água. Alguns
poderiam perguntar por que o soldado perfurou o lado direito do peito de Jesus,
se o coração fica ligeiramente mais à esquerda. Tratava-se de uma técnica que
fazia parte dos treinamentos de guerra dos soldados Romanos, à época. Via de
regra, nos combates, o oponente portava uma espada ou lança na mão direita, e um escudo
na esquerda, o que dificultava atingir o peito do oponente. Logo, os
soldados Romanos eram treinados a manejar a espada ou lança de modo a atingir o coração
do oponente, a partir de um golpe do lado à sua esquerda, e portanto, do lado direito da vítima, livre do
escudo.
Bem,
considero que este texto seja de caráter introdutório sobre o assunto, o que,
para muitos, pode ser o suficiente. O texto abrange, em linhas gerais, diversos
aspectos sobre o sofrimento de Jesus, durante sua Paixão e Morte. Pretendo,
conforme minhas possibilidades, discorrer mais sobre um ou outro tópico.
Alguém
poderia, ainda, argumentar: é tão difícil ler sobre os sofrimentos de Jesus,
algo tão cruento! Bem, que sirva para nos mostrar, talvez mais claramente, o
amor d’Ele por nós, que foi levado às últimas consequências. Que poderemos, nós,
retribuir ao Senhor Deus...?
Até
o próximo texto, e Santa Páscoa a todos!
Para saber mais:
- Barbet, Pierre, A Paixão de Cristo segundo o cirurgião,
Ed. Cléofas e Ed. Loyola, 12ª edição, 2014.
Obs.: Texto modificado em 13/04/2020.