Amigos,
Em janeiro de 2012,
eu escrevi e publiquei aqui no blog, o texto “Teorias e realidade”, em que eu
comentava sobre a questão da realidade e das teorias científicas que tentam
representa-la. Resolvi retornar ao assunto, ao ler um artigo sobre o tema, na
Edição Especial “Fronteiras da Física 3”, da revista de divulgação científica “Scientific
American Brasil”, em que os autores parecem questionar sobre a existência de
uma realidade objetiva.
Eles até usam um
argumento que, em princípio, é correto, de que o mundo pode ser “explicado” por
diferentes modelos, diferentes teorias; e que não parece haver um modelo preferencial,
uma vez que todos se tratam de aproximações. Até aí, tudo bem; mas daí a
questionar a existência de uma realidade objetiva, tem muita distância...
Já conhecemos exemplos
da existência de diferentes teorias para explicar um mesmo fenômeno. Por
exemplo, a gravidade. Inicialmente, este fenômeno foi explicado pela teoria da
gravitação universal de Newton; depois veio a teoria da relatividade geral de
Einstein, que também é uma teoria da gravidade... Surge então a pergunta: qual
das duas teorias é “a verdadeira”, ou “a mais correta”...? Sabemos que a
primeira, de Newton, tem domínio mais limitado: funciona bem a velocidades baixas
– em que a massa possa ser considerada constante –, e com corpos não muito
massivos. Porém, diante de velocidades elevadas ou corpos massivos, a teoria de
Newton não fornece bons resultados, e os fenômenos são explicados de melhor
forma pela teoria de Einstein. Mas isso significa que a teoria da gravitação universal
de Newton esteja errada...?
Não, não
significa. A teoria de Newton funciona muito bem para descrever movimentos de
corpos nas escalas em que estamos habituados: escalas nem muito grandes nem
muito pequenas de distância, tempo, velocidade e massa. Ou seja: casas e carros,
por exemplo, são construídos com base nesta teoria.
Alguns exemplos
podem ser dados, entretanto, em que a teoria de Einstein deve ser usada;
vejamos. Aceleradores de partículas produzem, de modo geral, feixes de
partículas relativísticas, ou seja, onde sua velocidade não é tão desprezível
assim em relação à da luz; logo, a variação da massa em função da velocidade das
partículas deve ser considerada. Outro caso é o desvio da luz emitida por
estrelas distantes, ao passar próxima ao Sol, por exemplo (poderia ser outra
estrela); a massa da estrela próxima é tão elevada, que o desvio causado no
feixe de luz só pode ser explicado corretamente pela teoria de Einstein – na
qual o desvio é consequência da curvatura do espaço-tempo nas proximidades da
estrela massiva próxima (já comentei sobre isso antes). Esse fenômeno também
ocorre na observação de galáxias distantes, com outra galáxia a meio caminho: a
imagem da galáxia distante é distorcida, ao passar em torno da mais próxima,
dando origem a formas em arcos, ou a múltiplas imagens da galáxia distante –
trata-se do efeito de lentes gravitacionais. A primeira Figura a seguir ilustra
o efeito de lentes gravitacionais; a segunda e a terceira, mostram exemplos de
imagens distorcidas por lentes gravitacionais.
Ilustração do efeito de lentes gravitacionais: as setas em cinza mostram a
trajetória da luz emitida pelas galáxias distantes até a Terra, curvadas pelo
efeito da gravidade do corpo massivo ao centro; as setas em laranja mostram as
trajetórias aparentes, que causam a impressão de imagens distorcidas das
galáxias distantes. Imagem da NASA, obtida de Hubblesite.
A cruz de
Einstein: imagem múltipla (quatro imagens) de um quasar distante, causadas por
uma galáxia situada entre o quasar e a Terra. Imagem da NASA, obtida de Hubblesite.
Efeito de lente
gravitacional causado pelo aglomerado de galáxias Abell 1689, composto de trilhões
de estrelas, um dos mais massivos conhecidos; nota-se imagens distorcidas em
formas de arcos, de brilho fraco, de outras galáxias ao fundo. Imagem da NASA,
obtida de Hubblesite.
No domínio dos
átomos e partículas subatômicas, a mecânica de Newton também falha na descrição
dos fenômenos... Aqui entra a mecânica quântica, que diz que uma partícula poderia
percorrer diferentes trajetórias ao mesmo tempo! Tudo muito esquisito, por
sinal... Mas experimentos com partículas em fendas mostram o efeito de
interferência, que seria esperado somente em experimentos com ondas, não com
partículas: daí vem dualidade onda-partícula... Este efeito é ilustrado em uma
animação, neste link1. Para
maiores explicações, veja observação ao fim deste texto2.
Enfim, cada teoria parece valer para um domínio específico: uma funciona bem para o macrocosmos (relatividade geral); outra, para o microcosmos (mecânica quântica); e a mecânica newtoniana, para o domínio em que vivemos e convivemos, do “não muito grande”, “nem muito pequeno”. Físicos ainda buscam unir a relatividade geral com a mecânica quântica: seria uma teoria da gravidade quântica...
Algo semelhante ocorre com a teoria eletromagnética (esta sim, é mais a “minha praia”!). Nós explicamos os efeitos causados por cargas e correntes elétricas, através dos campos elétrico e magnético, respectivamente. A teoria clássica diz que uma carga cria, em seu entorno, um campo elétrico – que é um campo vetorial –, e outra carga que seja aproximada da primeira, é afetada por este campo; diz também que uma corrente elétrica cria um campo magnético no seu entorno – também um campo vetorial. Mas há um modelo mais fundamental, que explica os fenômenos através da troca de fótons – estes sim, seriam a causa das interações! Então a teoria clássica está errada...? Também não: máquinas elétricas são projetadas segundo a teoria eletromagnética “clássica”, e estão por aí, funcionando “muito bem, obrigado”.
Como tudo isso parece estranho, não...? Diversas teorias, algumas das quais parecem contradizer-se, em certo sentido, mas ao mesmo tempo, cada uma explica bem os fenômenos naturais, em determinadas condições... Parece que não conseguimos desvendar, de todo, os mistérios da natureza, mas chegamos apenas a representações limitadas, descrições aproximadas, de como ela funciona...
Porém, isso não significa que não haja uma realidade objetiva; ou que cada um possa “criar” a “sua própria realidade”, cada qual segundo um modelo diferente... Modelos matemáticos que tentam explicar a natureza são representações; representações podem ser diferentes, a despeito de a realidade ser única. Para dar um exemplo claro, tomemos um objeto, a ser representado por diferentes pessoas, de diferentes maneiras: uma pode fazer um desenho simplificado do objeto; outra pode fazer um desenho mais detalhado; outra pode fazer uma pintura (ou pinturas, em diferentes estilos); outra ainda pode representa-la através de uma foto; outra pode fazer uma escultura; outra pode representa-la em estéreo, com efeito 3D! Enfim: as representações podem ser muitas, apesar de o objeto em questão ser, objetivamente, um só.
Este texto é uma reflexão pessoal, porém fruto de leituras, conforme o primeiro texto citado do blog, de janeiro de 2012. Diante de possíveis dúvidas quanto à existência ou não de uma realidade objetiva, que tal recorrermos à nossa fé, que atesta, em nosso Credo: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. (...)”. Nossa fé atesta que Deus é criador, e efetivamente criou o mundo: material (“terra”, “coisas visíveis”) e espiritual (“céu”, “coisas invisíveis”). Logo, o mundo não é uma ilusão, nem fruto de nossos sentidos apenas, nem há diversas possíveis realidades, cada qual conforme o “gosto do freguês”, conforme seu modelo ou teoria. Há o mundo criado por Deus, disso podemos ter certeza!
Viram como conjugar ciência com fé acalma nosso entendimento, e dissipa eventuais dúvidas?
E quanto a desvendar os mistérios da natureza, através de diferentes modelos ou representações, alguém já conhecia algo a respeito?
Espero ter ajudado. Até a próxima!
Enfim, cada teoria parece valer para um domínio específico: uma funciona bem para o macrocosmos (relatividade geral); outra, para o microcosmos (mecânica quântica); e a mecânica newtoniana, para o domínio em que vivemos e convivemos, do “não muito grande”, “nem muito pequeno”. Físicos ainda buscam unir a relatividade geral com a mecânica quântica: seria uma teoria da gravidade quântica...
Algo semelhante ocorre com a teoria eletromagnética (esta sim, é mais a “minha praia”!). Nós explicamos os efeitos causados por cargas e correntes elétricas, através dos campos elétrico e magnético, respectivamente. A teoria clássica diz que uma carga cria, em seu entorno, um campo elétrico – que é um campo vetorial –, e outra carga que seja aproximada da primeira, é afetada por este campo; diz também que uma corrente elétrica cria um campo magnético no seu entorno – também um campo vetorial. Mas há um modelo mais fundamental, que explica os fenômenos através da troca de fótons – estes sim, seriam a causa das interações! Então a teoria clássica está errada...? Também não: máquinas elétricas são projetadas segundo a teoria eletromagnética “clássica”, e estão por aí, funcionando “muito bem, obrigado”.
Como tudo isso parece estranho, não...? Diversas teorias, algumas das quais parecem contradizer-se, em certo sentido, mas ao mesmo tempo, cada uma explica bem os fenômenos naturais, em determinadas condições... Parece que não conseguimos desvendar, de todo, os mistérios da natureza, mas chegamos apenas a representações limitadas, descrições aproximadas, de como ela funciona...
Porém, isso não significa que não haja uma realidade objetiva; ou que cada um possa “criar” a “sua própria realidade”, cada qual segundo um modelo diferente... Modelos matemáticos que tentam explicar a natureza são representações; representações podem ser diferentes, a despeito de a realidade ser única. Para dar um exemplo claro, tomemos um objeto, a ser representado por diferentes pessoas, de diferentes maneiras: uma pode fazer um desenho simplificado do objeto; outra pode fazer um desenho mais detalhado; outra pode fazer uma pintura (ou pinturas, em diferentes estilos); outra ainda pode representa-la através de uma foto; outra pode fazer uma escultura; outra pode representa-la em estéreo, com efeito 3D! Enfim: as representações podem ser muitas, apesar de o objeto em questão ser, objetivamente, um só.
Este texto é uma reflexão pessoal, porém fruto de leituras, conforme o primeiro texto citado do blog, de janeiro de 2012. Diante de possíveis dúvidas quanto à existência ou não de uma realidade objetiva, que tal recorrermos à nossa fé, que atesta, em nosso Credo: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. (...)”. Nossa fé atesta que Deus é criador, e efetivamente criou o mundo: material (“terra”, “coisas visíveis”) e espiritual (“céu”, “coisas invisíveis”). Logo, o mundo não é uma ilusão, nem fruto de nossos sentidos apenas, nem há diversas possíveis realidades, cada qual conforme o “gosto do freguês”, conforme seu modelo ou teoria. Há o mundo criado por Deus, disso podemos ter certeza!
Viram como conjugar ciência com fé acalma nosso entendimento, e dissipa eventuais dúvidas?
E quanto a desvendar os mistérios da natureza, através de diferentes modelos ou representações, alguém já conhecia algo a respeito?
Espero ter ajudado. Até a próxima!
1Ao acessar o site, clique no vídeo “duality video demonstration” (no
canto superior direito).
2Explicação sobre o vídeo
citado:
- Primeiro, é mostrado o resultado de um canhão disparando
partículas “clássicas” (conforme a mecânica Newtoniana) em uma parede alvo, por
meio de duas fendas; neste caso não há interferência, pois cada partícula
atravessa, sem dúvida, uma fenda por vez.
- Depois, é mostrada a emissão de uma onda, e o efeito
de interferência surge na parede alvo, devido às contribuições construtiva e
destrutiva das ondas que emergem das duas fendas.
- Em terceiro lugar, é mostrado um objeto quântico (como
uma partícula subatômica, cujo comportamento é descrito pela mecânica quântica,
não pela Newtoniana); incrivelmente, apesar de se tratarem de partículas, surgem
interferências na parede alvo, da mesma forma como ocorre com as ondas! Ou seja,
partículas, no “microcosmo”, comportam-se como ondas; e vice-versa. Vale
ressaltar que esse efeito ocorre somente na ausência de um observador, ou seja,
se ninguém tentar medir, verificar, por qual fenda a partícula passa. Isso é
muito estranho, porque é como se a partícula passasse por ambas as
fendas simultaneamente, como as ondas, causando a interferência!
- Por último, o
vídeo mostra o efeito de um observador: quando se tenta verificar por qual
fenda a partícula passa, fica definido que ela passa por uma ou outra
fenda, pondo fim à interferência...
Não se preocupe se você achou toda essa explicação estranha; um dos expoentes da teoria quântica, Niels Bohr, disse que “se alguém não ficar chocado com a teoria quântica é porque não a entendeu”.
Não se preocupe se você achou toda essa explicação estranha; um dos expoentes da teoria quântica, Niels Bohr, disse que “se alguém não ficar chocado com a teoria quântica é porque não a entendeu”.
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