Em outubro deste
ano (2018), a União Astronômica Internacional (IAU
– International Astronomical Union),
recomendou que a Lei de Hubble – que descreve como as galáxias se afastam umas
das outras no universo em expansão –, seja renomeada para Lei de
Hubble-Lamaître, como reconhecimento às contribuições deste último cientista ao
desenvolvimento da cosmologia moderna.
Pe. Georges
Lemaître, SJ, foi um padre Jesuíta, belga e, ao mesmo tempo, um cientista. Na
década de 1920, ele propôs – contra as ideias de toda a comunidade científica,
à época –, que o universo não seria estático, mas estaria em expansão. Ora, se
está em expansão, em um passado remoto estaria concentrado em um estado de
compressão tal, que teria resultado em uma grande expansão (ou grande
explosão), a qual teria dado origem ao universo como o conhecemos atualmente. Ele
fez esta proposição a partir de seus estudos sobre a Teoria da Relatividade
Geral de Einstein.
Ao mostrar sua
ideia a Einstein, este a rejeitou inicialmente, como havia feito em relação a
uma proposição semelhante de um matemático russo, Alexandr Friedman. Ao final da
década de 1920, Edwin Hubble, outro cientista, comprovou esta expansão com base
em observações astronômicas. Dois artigos foram publicados: em 1929 e em 1931,
descrevendo esta lei que, desde então, levou o seu nome: Lei de Hubble.
Um detalhe
importante, porém, é que o Pe. Lemaître, SJ, havia deduzido a mesma Lei, antes
de Hubble, conforme publicara em um artigo1 seu de 1927, anterior mesmo
ao primeiro artigo de Hubble. Entretanto, Pe. Lemaître, SJ, publicou seu artigo
em uma revista científica belga, de pouca circulação fora deste país e,
portanto, pouco acessível a astrônomos e outros cientistas ao redor do mundo.
Além disso, o idioma no qual foi escrito – francês –, contribuiu mais ainda para
que ficasse praticamente desconhecido do meio acadêmico.
Outro detalhe
importante é que o Pe. Lemaître, SJ, e Hubble, participaram, ambos, de uma
conferência em 1928, a terceira Assembleia Geral da IAU, tendo trocado ideias a
respeito dos efeitos da expansão do universo na observação de outras galáxias
(afastamento em relação à nossa).
Tempos depois, em
1931, Pe. Lemaître, SJ, traduziu o artigo para o inglês, porém omitindo
deliberadamente sua descoberta de 1927, uma vez que Hubble já havia tornado
público estudo semelhante, e com novos dados mais atuais.
Agora, por meio de
votação entre seus membros, a IAU decidiu recomendar que a lei seja renomeada para Lei
de Hubble-Lemaître, em reconhecimento às contribuições do padre cientista à
cosmologia e à descoberta da Lei até então conhecida apenas como Lei de Hubble.
A proposta teve 78% de votos favoráveis entre os membros da organização!
Vejam como a
Igreja, ao contrário do que às vezes é alardeado por aí, é amiga da ciência! E,
mais interessante ainda, como uma organização científica internacional – a mais
importante organização científica da área de astronomia –, reconheceu a
importância do trabalho de um padre cientista!
Para saber mais sobre a vida deste padre, recomendo a leitura de um texto anterior deste blogue: Pe. Georges Lemaître, SJ.
Veja os links para boletim da IAU, a respeito
desta votação: uma breve notícia da votação;
e uma nota
(em inglês) da Assembleia Geral da IAU de 2018, realizada pouco antes, justificando
esta resolução.
A seguir, uma
imagem do Pe. Georges Lemaître, SJ, ladeado por Albert Einstein e por Robert
Milikan, o cientista que mediu a carga do elétron.
1 Lemaître, G. (April 1927), "Un Univers homogène de masse constante et de rayon croissant rendant compte de la vitesse radiale des nébuleuses extra-galactiques", Annales de la Société Scientifique de Bruxelles (in French), 47.
Para mais informações sobre o Pe.
Lemaître, consultar também:
- Link para uma página sobre o Pe. Lemaître no site da Universidade Católica de
Louvain, onde ele foi professor.(Atualização importante em 11 de novembro de 2018).