Amigos,
Nesse Primeiro Domingo da Quaresma, a Igreja nos propôs no
Evangelho (Lc 4,1-13), Jesus vencendo as tentações no deserto, o que
me levou a querer comentar algo aqui no blog. Mas o que isso tem a ver com o
diálogo entre ciência e fé? Bem, já comentei antes no blog sobre a “Ação Divina”,
na série de textos com este título, e também sobre milagres. As questões sobre
a ação Divina e milagres têm a ver com o diálogo entre ciência e fé, e vocês
verão que isso está, de certa forma, relacionado com o que vou comentar neste
texto.
Durante o período de quarenta dias que passou no deserto, Jesus nada
comeu. Importante salientar, que Jesus era guiado pelo Espírito Santo.
Na primeira tentação, o diabo disse a Jesus: “3(...) ‘Se és
Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão’. Jesus respondeu: ‘A
Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’’.’
Notemos que Jesus, sendo Deus, pode realizar atos
extraordinários. Ele não está subordinado à natureza. As leis da natureza,
criadas por Deus, não se aplicam ao próprio Senhor; mas à criação. Mas Jesus
faz milagres quando julga necessário. Neste caso, era uma tentação, que Jesus,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, venceu com a própria Palavra.
Ninguém pode desafiar Deus, dizendo: se és Deus, então faça
isso! Mais tarde, na cruz, Jesus também foi desafiado: “(...) se és o Filho de Deus,
desce da cruz!” (Mt 27,40). Logo, nenhum de nós jamais diga: se o Senhor é
Deus, então faça isso para mim... me dê isso, e então eu acreditarei; ou coisa
semelhante. Ele não está sob nossas ordens, nem pode ser desafiado...
Na segunda tentação, o diabo mostrou a Jesus todos os reinos do
mundo e disse: “6(...) ‘Eu te darei todo esse poder e toda a sua glória, porque
tudo isso foi entregue a mim e posso dá-lo a quem eu quiser. 7 Portanto, se te
prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu’. 8 Jesus respondeu: ‘A
Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás’’.”
Mais uma vez Jesus, com a própria Palavra, venceu a tentação. Não
se pode trocar Deus por nenhum ídolo, em hipótese alguma. No caso desta
tentação, o objetivo seria obter bens materiais, poder ou glória. Só Deus é Deus,
absoluto, eterno. Ninguém mais pode ocupar o seu lugar. Nenhum bem, poder ou
glória, no mundo, substitui Deus. Tudo isso passa, só Deus permanece. Se alguém
trocar Deus por bens, que se acabam, como fica depois, quando tudo se
acabar...? “Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão
dadas em acréscimo.” (Mt 6,33).
Aqui lembro também, que o Senhor não promete “boa vida” ou “moleza”
para quem O segue... “Se alguém quer vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome a
sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Então não existe isso de achar que, se seguir Jesus,
vai ter casas, carros, dinheiro sobrando na conta... ou de achar que quem tem
bens é abençoado, e quem não tem, não é abençoado... Se a pessoa for bem
sucedida em seu trabalho e conseguir algo, dê graças a Deus, e que saiba fazer
reto uso de seus bens.
Na terceira tentação, o diabo levou Jesus à parte mais alta do
templo de Jerusalém e disse: “9(...) ‘Se és Filho de Deus, atira-te daqui
abaixo! 10 Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito,
que te guardem com cuidado!’ 11 E mais ainda: ‘Eles te levarão nas mãos, para
que não tropeces em alguma pedra’’. 12 Jesus respondeu: ‘A Escritura diz: ‘Não
tentarás o Senhor teu Deus’’.”
Essa parte é a que me chama mais a atenção. Primeiro, o inimigo
de Deus cita a própria Palavra para tentar Jesus! Vejam que, dentre as próprias
leituras deste Domingo que passou, o Salmo 90/91 diz isso: “(...) pois o Senhor
deu uma ordem a seus anjos / para em todos os caminhos te guardarem. / Haverão de
te levar em suas mãos, para o teu pé não se ferir nalguma pedra.”. Segundo, nós
precisamos fazer a nossa parte, nos preservando dos perigos, materiais e
espirituais. Não é para ninguém se arriscar e se atirar ao perigo, e depois exigir
que Deus vá socorrer. Lembremos que o Senhor nos dotou de liberdade, e não a
tira de nós. Não podemos, aqui também, desafiar Deus, nos lançando ao risco de
vida – seja essa vida, ou a vida eterna –, e querer que o Senhor nos socorra.
Ele respeita nossa decisão... Ele nos deu discernimento também, inteligência.
Obra de Duccio, séc. XIV.
Quando Jesus vence as tentações, entendo também que Ele nos ensina que a ação Divina
não é algo para ser buscado como espetáculo... Ação divina não é show, não é cinema,
que tem efeitos especiais. Também não é algo a ser exigido por nós, como em um
desafio, uma provocação. O Senhor nos socorre sim, mas precisamos fazer a nossa
parte, e aceitar Sua ajuda. O Senhor pode fazer milagres sim, agir de forma
extraordinária, mas não podemos querer coloca-Lo sob nossas ordens ou caprichos
(e que atrevimento seria!). Ele é Deus! Ninguém pode tomar o Seu lugar.
Concluo com o link do Ângelus
do Papa neste último Domingo, que alimenta a nossa reflexão, afinal, trata-se
da orientação paternal do Vigário de Cristo. Para quem ainda não leu, aproveite.
Não reproduzi trechos de sua fala aqui, preferi disponibilizar o link.
Que aproveitemos bem a Quaresma para nossa conversão. Que
possamos vencer, com Cristo.
(Modificado em 20/03/2019).