domingo, 27 de janeiro de 2013

A liberdade humana


Amigos,

No último dia 25, dia da conversão de São Paulo, a Liturgia do dia me chamou muito atenção para a nossa responsabilidade em acolher a Boa Nova, e em nos abrirmos ao amor de Deus. Mais uma vez, vocês devem estar se perguntando: mas o que tem isso a ver com o diálogo entre ciência e fé...?

Bem, já comentei antes, em outros textos do blog, sobre questões a respeito do “fim” do mundo, e da salvação do homem. O tema sobre o fim do mundo diz respeito ao diálogo entre ciência e fé; e nesse contexto, comentei tanto sobre o que a ciência diz quanto ao fim da vida na Terra, ou quanto ao fim do universo, em diálogo com o que a Igreja ensina sobre o último dia: o dia da Segunda Vinda de Cristo. Comentei sobre a necessidade de vivermos em conversão, nos preparando para esse encontro definitivo com o Senhor, que ninguém sabe quando ocorrerá para cada um (Juízo Particular), ou para todos (Juízo Final). Nesse contexto, precisamos refletir sobre a liberdade do ser humano diante da salvação proporcionada por Deus. Sugiro uma recapitulada nos textos do blog, das séries: “Fim do mundo...?” e “Novos Céus e Nova Terra”; especialmente no texto “Novos Céus e Nova Terra (2)”.

Sobre a reflexão a seguir, baseada na Liturgia do dia da conversão de São Paulo, chamo a atenção de que se trata de uma reflexão pessoal; porém, cito também embasamento concreto, como vocês verão.

No Evangelho desse dia, destaco o trecho: Mc 16,15-16: “Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos 15 e disse-lhes: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado’. (...)”. Aqui está a questão sobre o anúncio da Boa Nova, e sobre a liberdade do ser humano em aceita-la ou não. Deus fez o ser humano dotado de liberdade, e conforme eu comentara antes, essa liberdade é total. Cabe ao homem fazer reto uso dessa liberdade; liberdade com responsabilidade. Claro que o homem poderia fazer mal uso de sua liberdade, mas as consequências ruins viriam também... Deus não nos força a nada; ele quer que nós O amemos, mas na total liberdade de quem ama a Deus sobre todas as coisas.

Vejamos também que Jesus não diz para seus discípulos tentarem incutir “a qualquer custo” o anúncio do Evangelho às pessoas; mas para que eles anunciem a Verdade: a aceitação ou não da mensagem do Evangelho, cabe a cada um. Claro que o anúncio precisa ser bem feito, o que envolve diferentes questões: o anúncio precisa ser feito de forma que as pessoas possam compreender; e principalmente, que o anúncio seja acompanhado de um testemunho coerente da vivência desta Verdade que é anunciada, ou seja, que aqueles que anunciam, vivam aquilo que pregam. Mas... a aceitação do anúncio cabe a cada um que o recebe. E essa aceitação não pode ser algo forçado: cada um que recebe o anúncio, precisa ter uma abertura à mensagem anunciada; há que se ter uma abertura, uma disponibilidade para recebe-la, uma boa vontade em acolhê-la.

Vejam que, na Primeira Leitura, São Paulo demonstra essa abertura, quando ouve a voz do Senhor que lhe fala, conforme o trecho que destaco: At 22,6-10: “(...) 6 Ora, aconteceu que, na viagem, estando já perto de Damasco, pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim. 7 Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’ 8 Eu perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ Ele me respondeu: ‘Eu sou Jesus, o nazareno, a quem tu estás perseguindo’. Meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. 10 Então perguntei: ‘Que devo fazer, Senhor?’ O Senhor me respondeu: ‘Levanta-te e vai para Damasco. Ali te explicarão tudo o que deves fazer’. (...)”.
Conversão de São Paulo
Aqui há algo bem interessante: Jesus se identifica com Sua Igreja; Ele não pergunta: por que persegues a Igreja? Mas sim: “(...) por que me persegues? (...)”; e também, no trecho: “(...) Eu sou Jesus, o nazareno, a quem tu estás perseguindo. (...)”. Aqui temos claro que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo: perseguir Sua Igreja, é o mesmo que persegui-Lo... Fica aqui um alerta para todos esses que vêm perseguindo a Igreja ferozmente, em todo o mundo... E quando chegar o Juízo Particular de cada um desses que O perseguem...? Bem, mas isso é assunto para outra oportunidade, quem sabe.
O que eu quero destacar, nesse texto do blog, é que São Paulo (ainda Saulo), ao ouvir a voz do Senhor, tem total abertura à Sua mensagem: “(...) Quem és tu, Senhor? (...)”; ele não O conhecia, mas abriu-se à novidade... (reparem na palavra Senhor, em maiúsculas...). E ainda, no trecho: “(...) Que devo fazer, Senhor? (...)”, vejam que tamanha, total, abertura de São Paulo a Jesus! Saulo, que era grande perseguidor da Igreja! Mas ao receber a Boa Nova, abre-se totalmente a ela! E isso importa muito, essa abertura, essa disponibilidade. A pessoa ainda não conhece a mensagem do Evangelho? Que lhe seja anunciada (e isso precisa ser bem feito). Mas quem recebe o anúncio precisa ter essa abertura, para acolher de boa vontade a Boa Nova de Cristo.

É isso, amigos. De um lado, anúncio da Boa Nova; de outro, abertura de coração de quem recebe o anúncio. É como uma via de mão dupla. Deus não nos força; precisamos querer viver Seus ensinamentos também. E esta segunda parte cabe a cada um de nós... é nossa responsabilidade; agimos no uso da nossa liberdade. Que todos nós façamos reto uso de nossa liberdade.

Cito alguns trechos do Catecismo da Igreja Católica, a respeito da liberdade humana:

CIC 1705: “Em virtude de sua alma e de seus poderes espirituais de inteligência e vontade, o homem é dotado de liberdade, ‘sinal eminente da imagem de Deus’.”

CIC 1730: “Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. ‘Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão’ (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição.”

Para terminar, cito uma frase de Santo Agostinho: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”.

Até a próxima, com a graça de Deus!

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