sábado, 22 de dezembro de 2012

Universo em expansão...


Amigos,

No último texto do blog, eu comentei sobre um artigo do Pe. José Gabriel Funes, SJ, diretor do Observatório do Vaticano, sobre a tal falsa profecia do fim do mundo, do calendário maia. Naquela ocasião, eu teci breve comentário sobre assuntos como: energia escura, expansão acelerada do universo, Big Rip... Pois bem, retornemos a esses temas.

Devo confessar que trata-se de algo que de fato me intrigava ultimamente... Vejamos o porquê.

Desde novo, eu acompanho notícias sobre ciências em meios de divulgação, e a ideia do Big Bang já me era familiar há muito tempo; aliás, já falei sobre o Big Bang antes no blog, no texto “Pe. Georges Lemaître, SJ”. Já vimos também que essa teoria nada tem de contrária à nossa fé em Deus, pois fala que o mundo (o universo) teve um início – o que está de acordo com nossa fé em Deus Criador –, e trata o mundo como criação – o que de fato é.

A teoria do Big Bang fala de uma singularidade inicial. Calma, vamos lá. Trata-se do marco zero (chamemos assim) do universo, onde toda a matéria/energia (lembremos da equivalência entre massa e energia, explicada pela teoria da Relatividade Geral de Einstein), estava concentrada em um único ponto (singularidade), tendo se expandido desde o instante inicial, até constituir tudo o que existe hoje no universo. Nesse ponto (singularidade), a densidade de matéria/energia era infinita (tendia ao infinito), dado que o volume do universo era nulo (tendia a zero). A ciência não consegue “recuar” até esse instante inicial (ou seja, estudar o que ocorreu aí), somente até 10-43 s, o denominado tempo de Planck; as leis da física, como as conhecemos, não se aplicam antes desse tempo.

A ciência fala também de outras singularidades: os buracos negros. Lembram do texto do blog “Teorias e realidade”? Nele, eu comentei sobre o fenômeno da gravidade, e sobre as teorias propostas pela física para explica-la: primeiro, a teoria da Gravitação Universal, proposta por Newton; depois, a teoria da Relatividade Geral, proposta por Einstein, cerca de dois séculos e meio depois. Ambas explicam o mesmo fenômeno de maneiras muito diferentes...

No caso da Relatividade, a gravidade é explicada como sendo o resultado da curvatura do espaço-tempo; sim, a teoria diz que vivemos em um espaço com quatro dimensões: três espaciais e uma para o tempo. Espaço e tempo, antes tratados como entidades independentes, passaram a ser tratados como partes de uma única entidade: o espaço-tempo.

Lembram da representação do tecido ou malha, para o espaço-tempo, sobre a qual eu comentei naquele texto? Incluí até algumas ilustrações! Sugiro que acessem o texto, para recapitular mais detalhes, caso queiram. O importante é saber que, na dificuldade de se representar algo com quatro dimensões – quando só conseguimos visualizar ou imaginar coisas com no máximo três –, podemos representar o espaço-tempo quadridimensional de forma simplificada, como se fosse um tecido de apenas duas dimensões. A presença de corpos massivos introduz distorções (curvaturas) no tecido do espaço-tempo do cosmos. Na representação do tecido bidimensional, podemos imaginar os corpos como “bolas” – umas mais leves, outras mais pesadas – afundando em uma cama elástica. Nas proximidades de uma dessas depressões, causada por um corpo massivo, outro corpo seria atraído por aquele que a provocou, como que “caindo” na depressão assim formada. Logo, o efeito da atração gravitacional seria devido à distorção no espaço-tempo, causada por um corpo massivo, que criaria como que uma “bacia” de atração. Repito a figura aqui, para maior clareza; o corpo massivo não está visível nessa figura, estaria no fundo da depressão.
Bacia de atração (distorção no tecido do espaço-tempo), devido à presença de um corpo massivo.
Já os buracos negros, são corpos tão massivos – resultado da morte violenta de estrelas com massa muito elevada –, que a massa restante colapsa sob a ação da própria gravidade, implodindo sem nada que o impeça. Assim, a densidade no centro dessa massa restante tende ao infinito – causando, então, uma singularidade (lembram dela...?). Algo como um “buraco sem fundo”...
As singularidades são como aqueles pontos, em funções matemáticas, em que o valor da função tende a infinito, provocando uma descontinuidade. Pensem, então, nos buracos negros, como espécies de descontinuidades no espaço-tempo, onde a densidade tende a infinito, com o volume da massa restante tendendo a zero. Lindo isso! Não acham? Bem... aqui de longe sim; não queiram admirar um buraco negro de perto... sua gravidade, a partir de determinada região em seu entorno (chamada horizonte de eventos), faz com que nada mais escape: nem mesmo a luz! De fato, é um buraco sem fundo... e passar do horizonte de eventos leva a uma queda sem fim, e sem volta...
Segue uma ilustração da deformação no espaço-tempo causada por um buraco negro. A figura está truncada (obviamente...), pois a depressão se estenderia infinitamente. A depressão vai se afunilando cada vez mais (para baixo, na figura), indefinidamente, sem chegar nunca a se fechar em um ponto; no ponto central (singularidade), há uma descontinuidade, literalmente uma ruptura, como um “furo” no tecido do espaço-tempo cósmico, pois o “funil” se estenderia ao infinito. Lindo isso, não!? (Daqui de longe...).

Distorção extrema (descontinuidade) no tecido do espaço-tempo, causada por um buraco negro.

Pois bem, retornemos ao Big Bang e à expansão do universo. Até alguns anos atrás, os cientistas imaginavam, a partir do Big Bang, alguns possíveis cenários para a evolução do universo; por exemplo:

1-      O universo expandiria indefinidamente, sem aceleração nem desaceleração;

2-     O universo expandiria de forma desacelerada, porém sempre estaria em expansão (cada vez mais lenta);

3-     O universo expandiria de forma desacelerada, porém essa desaceleração faria o universo entrar em colapso novamente.

No último caso, a expansão desacelerada faria com que o universo parasse de expandir, em dado momento de sua história. Logo, a gravidade passaria a dominar, e o universo passaria a contrair-se, em um processo inverso ao da expansão ocorrida desde o Big Bang, terminando por colapsar em um único ponto (singularidade), novamente. Esse colapso era denominado Big Crunch – algo como grande implosão, ao contrário da grande explosão inicial (Big Bang). Seguem imagens ilustrativas. Os dois modelos da esquerda mostram um universo em expansão desacelerada, sendo o primeiro aquele em que o universo entraria novamente em colapso (Big Crunch); o terceiro modelo é o da expansão sem aceleração nem desaceleração; o quarto modelo é o da expansão acelerada, sobre o qual comentarei adiante. Na figura, há um comentário explicando algo como, se o universo estiver em expansão desacelerada, seria mais jovem; já nos outros casos (especialmente no da expansão acelerada), o universo seria mais antigo. Atualmente, há a estimativa de que o universo teria cerca de 13,7 bilhões de anos.
Possíveis modelos da evolução do universo.1
Nos últimos anos, porém, observações astronômicas surpreenderam os cientistas, indicando uma expansão acelerada do universo! Nesse caso, a gravidade nunca dominaria o processo; pelo contrário, uma força contrária, expansiva, dominaria cada vez mais sobre a gravidade, e o universo expandiria cada vez mais, e cada vez mais rápido... O cenário final é algo difícil de imaginar, mas seria como um “esticamento” do universo, ao infinito... A expansão cada vez mais acelerada faria, a partir de certo momento, com as estrelas e galáxias se expandissem de nós tão rapidamente, que não seríamos mais capazes de vê-las; e as próprias estrelas e galáxias acabariam por se despedaçarem, no futuro, pela ação da força expansiva cada vez mais violenta, e sem nada para impedir sua ação dominante em relação à gravidade.
Mais ainda: descobriu-se que a ciência desconhece grande parte do que constitui o universo. A matéria que conhecemos contribui com apenas cerca de quatro por centro de tudo o que existe! Do que mais o universo é constituído?
Bem, em primeiro lugar, observações astronômicas indicam que parece haver mais matéria nas galáxias e aglomerados de galáxias, do que realmente há. A matéria visível, somente, não explica a dinâmica observada nas galáxias seus aglomerados; falta matéria no balanço final para explicar os efeitos gravitacionais observados... Logo, imagina-se que haja uma espécie de matéria escura (não visível), responsável pelo efeito gravitacional “observado” indiretamente a partir dos movimentos dos corpos celestes.
Mas essa matéria escura ainda não preenche tudo aquilo que é medido no universo... A matéria escura perfaz cerca de 23 % de tudo o que constitui o universo; com mais os 4 % de matéria visível, são 27 %. E os 73 % restantes?
Os 73 % restantes são atribuídos à energia escura, algo que também ainda não se conhece, mas que teria um efeito gravitacional “às avessas”; ou seja, com efeito de uma força de repulsão, ao contrário da gravidade que conhecemos, que atrai os corpos mutuamente. A energia escura seria a responsável pela expansão acelerada do universo. A partir de certo momento na história, quando os corpos passaram a estar separados suficientemente, a força provocada pela energia escura – que parece não diminuir com a expansão do universo –, passou a se sobrepor à gravidade de atração – que diminui com a expansão –, fazendo com que o universo passasse a se expandir de forma acelerada...
Para esclarecer: as medidas que indicam a expansão acelerada do universo foram realizadas a partir da observação de supernovas distantes – e, portanto, antigas. Desde que se descobriu que o universo estava em expansão (lei de Hubble, vide o texto sobre o Pe. Lemaître, SJ), a velocidade de expansão é medida através do desvio para o vermelho, da luz emitida por corpos celestes.
Lembram do efeito Doppler? É ele que explica porque ouvimos uma sirene, de um carro que se aproxima, com som mais agudo (maior frequência), enquanto ouvimos a mesma sirene com som mais grave (menor frequência), quando o veículo se afasta de nós. As ondas sonoras sofrem uma compressão quando o veículo se aproxima, aumentando a frequência do som ouvido; e são distendidas quando o veículo se afasta, causando um som com menor frequência. Vejam um “gif” animado sobre o efeito Doppler.

Ilustração do efeito Doppler, para ondas sonoras.
Bem, o mesmo ocorre com as ondas eletromagnéticas (a luz), emitida pelas estrelas e galáxias. Como o universo está em expansão, a luz emitida por esses corpos celestes chega até nós com frequência menor do que realmente possuem na origem; e em termos de luz, na escala do visível, o vermelho possui menor frequência, e o azul, maior. Logo, corpos celestes se afastando de nós, possuem desvio para o vermelho. Esse desvio pode ser medido por análise do espectro da luz recebida (que indica as frequências que compõem a luz). Pela lei de Hubble, quanto mais distantes de nós, tão mais rapidamente os corpos se afastam – é uma lei proporcional (descrita por uma reta).
Bem, como já comentamos no blog antes (vide textos “Poeira das estrelas” e “Poeira das estrelas - imagens (2)”), as supernovas (e também os buracos negros) são resultado de mortes violentas de estrelas; no caso, estrelas muito massivas. As supernovas são explosões violentíssimas, e estão entre os fenômenos mais cataclísmicos do universo! Durante sua explosão, uma supernova (decorrente da morte de uma única estrela), pode chegar a brilhar tanto quanto uma galáxia – a galáxia que a abriga, por exemplo! Fantástico, não!?
Pois bem, por esse motivo, as supernovas são tidas como verdadeiros “faróis” no universo, pois podem ser avistadas a distâncias enormes (bilhões de anos-luz!). Logo, por serem fenômenos muito distantes, são também muito antigos – pois a luz levou bilhões de anos para chegar até nós. Então, observações de supernovas distantes podem nos dar uma boa medida de como a expansão do universo era a bilhões de anos atrás. Aí está a questão: os cientistas observaram que a expansão cósmica era mais lenta num passado bem remoto do universo... Logo, a expansão está mais rápida agora, ou seja: o universo está em expansão acelerada.
Algo interessante sobre a energia escura é que ela pode corresponder à constante cosmológica que Einstein havia proposto, inicialmente, em sua teoria da Relatividade Geral. Lembram no texto que eu publiquei sobre o Pe. Lemaître, SJ, que eu expliquei que Einstein havia proposto uma suposta força de ação repulsiva, para contrabalançar a gravidade, a fim de evitar um colapso do universo? Pois bem, quando Hubble mostrou, por observação que o universo estava mesmo em expansão, Einstein reconheceu o trabalho do Pe. Lemaître, SJ (e o de Friedman; vide texto citado acima), em que a expansão seria consequência do Big Bang; e admitiu que sua constante cosmológica havia sido um equívoco. Agora, com a observação da (aparente; vide explicação no parágrafo seguinte para o “aparente”) expansão acelerada do universo, parece que a constante cosmológica voltou à cena, porém com o nome de energia escura; em todo caso, conceitualmente semelhante: uma espécie de força gravitacional repulsiva.
Há uma explicação alternativa para os resultados dessas medidas. O universo, em grandes escalas (escalas de aglomerados de galáxias), tem o aspecto de uma grande “teia”, onde os elementos dessa teia são as galáxias, “unidas” pelo efeito gravitacional entre elas (aí também há o efeito da matéria escura). Essa teia define, então, regiões com maior concentração de massa, e outras regiões que são grandes vazios, entre os aglomerados de galáxias (como que “bolhas” ente os “fios” da teia). Logo, é razoável supor que o universo esteja se expandindo de forma diferente, nessas regiões: de forma mais lenta nas regiões mais densas, devido à gravidade entre as galáxias; e de forma mais rápida nas regiões mais vazias. Se nós estivermos situados em uma dessas regiões mais vazias, teremos a impressão de que o universo estaria se expandindo de forma acelerada (de fato estaria, na nossa bolha), o que não significa que o universo, como um todo, esteja em expansão acelerada... Vejam imagem sobre a estrutura do universo em larga escala, com os aglomerados de galáxias.
Imagem (simulação) da estrutura do universo em larga escala (com os aglomerados de galáxias); é possível que, nos espaços vazios – as bolhas –, o universo esteja se expandindo de forma acelerada; porém de forma desacelerada nas teias.
Bem, confesso que a ideia da expansão acelerada e do Big Rip sempre me incomodou... Mas fiquei mais em paz ao ler o texto do Pe. José Funes, SJ, em que ele comenta sobre esse possível fim escuro e frio para o universo – caso a teoria esteja realmente correta, como ele mesmo frisa. Mas independentemente do que diz a ciência sobre o destino do universo, nós conjugamos ciência com fé. E a fé, pela Revelação Divina, a partir das Sagradas Escrituras, nos garante que, no último dia (na Segunda Vinda de Cristo, quando haverá o Juízo Final), Deus transformará a nós e a toda a criação; não será o fim, mas teremos novos céus e nova terra (vide a série de textos “Fim do Mundo...?” e “Novos Céus e Nova Terra”, cujos primeiros podem ser acessados aqui e aqui, respectivamente). Não sabemos como será; mas sabemos que ocorrerá! Pois é digno de toda confiança e credibilidade Aquele que diz! Não é qualquer um que diz que haverá novos céus e nova terra; é o próprio Senhor! Então, para nós, tanto faz se teremos Big Crunch, Big Rip, ou se o universo continuará se expandindo de outra forma, ou o que for. Nosso coração, e todo o nosso ser, se aquieta com a Palavra de Deus, que nos consola e dá um sentido último a tudo!
Espero que tenham gostado! Até a próxima, com a graça e a paz de Deus!


1. Foto obtida do site: http://hubblesite.org; crédito de STScI, em contrato com a NASA.

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