Caros,
Quem tem
acompanhado as notícias nos meios científicos, e de divulgação científica, já
deve ter lido algo sobre a grande notícia recente (de 17/03 último), sobre a
descoberta das ondas gravitacionais. Mas o que são ondas gravitacionais...? E o
que isso tudo tem a ver com nosso interesse, em relação à fé – ou ao diálogo
entre ciência e fé...?
Vejamos.
Quem acompanha este Blog, deve ter lido já textos em que eu comento sobre a
teoria do Big Bang, sua relação com a fé, criação, e sobre o Pe. Georges
Lemaître, SJ, que propôs esta teoria na década de 1920. As ideias que deram
origem à teoria do Big Bang foram propostas independentemente por dois cientistas:
Aleksandr Friedman, um matemático russo, e Pe. Georges Lemaître, SJ, um padre
belga, também cientista; sendo que este último insistiu contra a resistência
inicial de Albert Einstein, e desenvolveu a ideia, fornecendo uma interpretação
física para a solução das equações da então recente teoria da Relatividade
Geral, proposta por Einstein poucos anos antes. A interpretação era a de que o
universo estaria em expansão; logo, retrocedendo no tempo, chegaríamos a um
instante inicial onde o universo teve início, uma singularidade – estado no
qual toda a matéria e energia do universo (e também o espaço e o tempo!)
estariam comprimidas em uma região ínfima (com volume tendendo a zero,
densidade e temperatura tendendo a infinito)!
Toda a
comunidade científica da época acreditava em um universo estacionário – ou
seja, que não variava com o tempo (nem se expandindo, nem se contraindo) –, e
eterno... Após a observação de Edwin Hubble em 1929, que comprovou que as
galáxias estavam se afastando umas das outras, ficou confirmado que o universo
estava em expansão... o Pe. Lemaître, SJ, estava correto! Einstein foi capaz de
reconhecer isso.
Na década
de 1960, foi observado também que o universo é permeado por uma Radiação
Cósmica de Fundo de Microondas (RCFM), exatamente conforme previsto pela teoria
do Big Bang! Logo após esta descoberta, o Pe. Lemaître, SJ, faleceu... Para
maiores detalhes, sugiro uma lida no texto do Blog, “Pe.
Georges Lemaître, SJ”.
Mas como
surgiu esta radiação? Cerca de 380 mil anos após o Big Bang, a luz – que até
então estava “presa” entre as partículas de matéria ionizada – passou a se
propagar por todo universo; isso deve-se ao fato de que as partículas
eletricamente carregadas passaram a unir-se em átomos neutros, deixando de
interferir na luz. Devido à expansão do universo desde então, o comprimento
desta luz dilatou-se, encontrando-se hoje na faixa de microondas. Esta RCFM foi
medida anos depois em diferentes experimentos, que forneceram cada vez maiores
detalhes acerca dela.
A teoria da
Relatividade Geral explica a gravitação como distorções ou curvaturas no
“tecido” do espaço-tempo, devido à presença de matéria; e prevê, da mesma
forma, a existência de ondas gravitacionais – ondulações no espaço-tempo. Estas
seriam semelhantes às ondulações que vemos na superfície de um lago, devido à
queda de uma pedra (ou qualquer corpo). A existência de ondas gravitacionais
prevê também que as órbitas de corpos celestes em torno de outros mais massivos
(planetas em torno de estrelas, por exemplo), percam energia, com o passar do
tempo, devido à emissão das ondas gravitacionais. Entretanto, por serem muito
fracas, as ondas gravitacionais ainda não haviam sido detectadas diretamente. A
única evidência era esta perda de energia, com a consequente modificação das
órbitas, que fora verificada em pares de corpos muito massivos girando em torno
uns dos outros.
Bem, indo
agora direto ao assunto, cientistas observaram recentemente sinais das ondas
gravitacionais “impressos” na RCFM. Como assim? A teoria prevê que as ondas
gravitacionais ocorridas nos primeiros instantes do universo (antes de 10-32 s!),
deveriam ter deixado sinais na RCFM, que surgiu depois; e tais sinais foram
observados, da forma como haviam sido previstos! Interessante é que as
observações mais antigas que podíamos ter até então, eram a partir dos 380 mil
anos, quando surgiu a RCFM. As observações atuais, entretanto, referem-se aos
instantes iniciais do universo, uma vez que as “marcas” das ondas
gravitacionais destes instantes foram deixadas posteriormente na RCFM. Agora
podemos “ver” o que aconteceu nos instantes iniciais do universo! A imagem a
seguir ilustra o que foi comentado.
Ressalto
que, para nós, a teoria do Big Bang nada tem de errado em relação à nossa fé;
pelo contrário, ela fala de um instante inicial – que, para nós, é o momento da
criação. A descrição científica e a narrativa Bíblica não interferem uma na
outra; a primeira, nos fala de como o
mundo teve início, enquanto a última nos revela verdades de fé – não visam ser
descrições científicas da criação. Para nós, o que quer que a ciência diga, nossa
fé continua a mesma – pois o que a ciência diz restringe-se a seu próprio campo
de estudo, não o da fé. Mas como é bom ver uma notícia assim! Mais uma
evidência do Big Bang!
Não
esqueçamos: conjugamos ciência com fé; Deus é o criador de todas as coisas! E
guia o homem nas descobertas das maravilhas de Sua obra! Cabe ao homem ter a
humildade para reconhecer isto, e buscar sinceramente a verdade!
1 Vide mais
informações sobre a imagem no seguinte link.
Ressalto que seu uso não significa que autor endosse o meu texto.