domingo, 22 de setembro de 2013

A lógica de Deus - continuação


Amigos,

Continuando a reflexão sobre a Liturgia do XXIV Domingo do Tempo Comum, em particular do Evangelho (Lc 15,1-32). Jesus contou também a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). Essa parábola também não é tão fácil de entender, em um primeiro momento. Mas isso é porque procuramos entender com a nossa lógica, que, como já vimos, muitas vezes acaba falhando quando se trata dessas situações envolvendo amor e misericórdia. Vejamos:

“11 E Jesus continuou: ‘Um homem tinha dois filhos. 12 O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14 Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15 Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16 O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17 Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18 Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19 já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20 Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21 O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22 Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24 Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26 Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27 O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. 28 Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30 Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. 31 Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’.’ ”
 

Ilustração da Parábola do Filho Pródigo1.


À primeira vista, alguém poderia questionar porque o pai da parábola (que representa o próprio Deus), acolheu o filho pródigo – que agiu com imprudência, desperdiçando todos os bens do pai –, cheio de amor e misericórdia, sem ao menos repreendê-lo... Nós, em seu lugar, muito provavelmente daríamos uma bronca no filho, apontando-lhe todos os seus erros, sua irresponsabilidade, etc... Mas o pai da parábola que Jesus contou, não; sua reação foi bem diferente do que esperaríamos.

Vejam que o próprio filho pródigo, quando pensa em voltar, reconhece que já não seria merecedor de ser considerado filho, por causa dos seus erros, do seu pecado. Reconheceu que, por questão de justiça, ele não mereceria mais o mesmo tratamento: deveria arcar com as consequências, e se contentar em ser tratado como um empregado.

Mas qual nada... O pai sentiu compaixão quando o avistou de longe, e correu em sua direção, cobrindo-o de beijos e abraços... Na verdade, para tê-lo avistado de longe, fico pensando que o pai deveria sempre mirar o horizonte, na esperança de ver seu filho retornando... Só assim, possivelmente, conseguiu avistá-lo ainda à distância. Nem sequer deixou o filho terminar de confessar sua culpa, e ordenou aos empregados que trouxessem uma nova túnica, sandálias e anel – mostrando que o estava recebendo como filho; e mandou matar o novilho gordo para festejar.

O irmão mais velho, que sempre tinha sido fiel ao pai, não aceitou bem o fato, e se achou injustiçado por ter seu pai mandado matar o novilho gordo para o filho que havia sido rebelde e pecador.  Em nosso entendimento falho, não entendemos por que o pai estaria dando mais atenção ao filho que havia sido pecador, que ao filho que sempre lhe havia sido fiel... Faz lembrar o caso das noventa e nove ovelhas que o pastor havia deixado momentaneamente, para salvar aquela que havia se perdido. Mas vejam a resposta do pai da parábola: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.” Não é que o pai não desse importância ou valor ao filho mais velho e fiel; mas o filho que havia sido perdido, precisava de maior atenção naquele momento (como a ovelha da outra parábola, que havia se perdido).

Como o pai da parábola representa Deus, nos alegramos, mais uma vez, de perceber que o Senhor se preocupa com todos e com cada um de nós em particular, mas dispensa um cuidado mais urgente com aquele que se desvia de Seu caminho. Não porque Ele não se preocupe com aqueles que O seguem mais de perto, mas porque os que caminham longe é que precisam de mais ajuda no momento. Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.” Os que O seguem de perto, não recebem menos atenção; o Senhor os tem próximos a Ele, a salvo. Mas Ele se preocupa urgentemente com os que se afastaram.

Devemos refletir também quando vemos alguém que teve uma vida de pecador – às vezes de forma escandalosa –, em estágio de conversão, em uma vida renovada. Podemos correr o risco de questionar também, por que alguém que sempre agiu tão mal, agora vive quase como um santo...? Mas logo aquele, que sempre teve uma “vida torta”...? Bem, mas o Senhor é misericórdia, e perdoa os pecados arrependidos. E, uma vez perdoados, a pessoa inicia vida nova. E seu passado escandaloso? Ficou para trás. Não recebemos também a misericórdia de Deus? E os outros, não podem receber também...? Só nós...? Para pensarmos...

Até a próxima!

 
1 The Return of the Prodigal Son, por Rembrandt, entre 1663 e 1665; no Museu Hermitage.

sábado, 21 de setembro de 2013

A lógica de Deus


Amigos,

Lógica é algo que remete à nossa razão... E, ligada à fé, trata-se de assunto de interesse nosso. A Liturgia do XXIV Domingo do Tempo Comum me fez pensar em escrever algo a respeito; vocês verão o porquê. No Evangelho (Lc 15,1-32), Jesus contou parábolas que nos fazem refletir bastante, pois mostram que Deus tem uma lógica bem diferente da nossa... E por isso devemos dar graças! Pois o Senhor usa de misericórdia conosco, e nós precisamos.

Em uma das parábolas, Jesus diz (Lc 15,4-7): “4 ‘Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5 Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, 6 e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’ 7 Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão’.”
 

Ilustração da Parábola da Ovelha Perdida1.

Vejam como a lógica de Deus é muito diferente da nossa. Nós costumamos pensar em eficiência, e, sinceramente, se dependesse da nossa lógica humana, pensaríamos: “perdemos uma, mas pelo menos conseguimos salvar noventa e nove!” Mesmo lamentando, desistiríamos da ovelha perdida, e, chegando em casa, ainda diríamos: “Vejam, somos muito eficientes! Nosso rendimento foi de 99 %! Afinal, das cem ovelhas, só perdemos uma...”.

Mas vejam a lógica de Deus: para Ele, essa ideia de 99 % de eficiência não resolve o problema; Ele quer a TODOS, e Se preocupa com CADA UM em particular! O Senhor não se contenta com que 99 % sejam salvos, mas Ele quer a salvação de todos, de 100 % de Seu rebanho! Para Ele, cada um de nós é importante, importantíssimo! Ele sabe que cada um de nós é uma obra Sua que é única, em todos os tempos! Ele nos criou por amor, e para o amor; nos criou para estarmos, ao fim de nossa peregrinação terrena, junto a Ele, em Seu Reino, com vida em abundância e felicidade eterna! Inicialmente não entendemos como alguém pode deixar as noventa e nove ovelhas, momentaneamente, para buscar aquela única que se perdeu... O fato é que aquelas noventa e nove estão a salvo; o pastor da parábola se preocupa com elas também, mas naquele momento, é a que se perdeu que precisa de mais ajuda, e urgentemente.

Que bom saber que o Senhor Se preocupa com todos e com cada um de nós em particular, não é mesmo? E que bom que Sua lógica é muito superior à nossa!

Tudo isso me faz lembrar de um trecho do livro de Isaías (Is 55,8-9):

“Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; 9 mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.”

(Continua no próximo texto).


1 Baseada no Evangelho de Mateus, porém refere-se à mesma Parábola.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Reflexões – Liturgia de 11/09/2013


Amigos,

Hoje venho, mais uma vez, partilhar uma reflexão sobre a Liturgia, desta vez do dia 10 de setembro de 2013. Neste caso, o tema não aborda o campo da ciência; mas como fala sobre a busca pela verdade1 – tema de grande interesse nosso – segue então.

Destaquemos alguns trechos da I Leitura, da Carta de São Paulo aos Colossensses (Cl 3,1-11):

“Irmãos, 1 se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; 2 aspirai Às coisas celestes e não às coisas terrestres. (...) 5 Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra (...) 9 (...) já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir 10 e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu criador (...)”.

E, do Salmo responsorial (Sl 144/145):

“2. Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem
      E os vossos santos com louvores vos bendigam!
      Narrem a glória e o esplendor do vosso reino
      e saibam proclamar vosso poder!”

 

Do Evangelho (Lc 6,20-26):

“(...) 22 Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do homem! 23 Alegrai-vos, neste dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu. Porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. (...) 26 Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas”.

 
 
Igreja no monte das Bem-Aventuranças

 

Bem, amigos, o que pensar sobre tudo isso? Tem ou não a ver com buscar a verdade e testemunhá-la, custe o que custar: perseguições, injúrias, e tantas outras coisas mais? Esse último trecho do Evangelho é bem claro, e dá uma bela “sacudida” em todos nós, para ver se acordamos... Mais uma vez, no que diz respeito a ser fiel à verdade, volto a comentar sobre o grande problema de achar que devemos agradar a todos a qualquer custo, fazer “boa política”, ainda que às custas de agirmos mal, contra a verdade... Ou, visto de outra forma, quando se busca agradar a todos, corre-se sério risco de desagradar a Deus... Lembremos que, quando Jesus pregava a Boa Nova, muitas vezes acabava provocando a ira de muitos de seus ouvintes; não que Ele quisesse fazer isto: Ele simplesmente revelou a verdade, mas era justamente isto o que despertava a ira de muitos... Lembremos de que, em algumas dessas vezes, conforme as narrativas Bíblicas, alguns destes, ao ouvirem Jesus, já começavam a tramar como haveriam de matá-Lo!

Logo, se nem Jesus conseguiu agradar a todos, somos nós que devemos fazer de tudo para agradar a todos? Seríamos, acaso, melhores que Ele...? Claro que não! De fato: quem busca agradar a todos, acaba correndo o risco de desagradar a Deus; já, procurando agradá-Lo, certamente desagradaremos a alguns, ou a muitos... Não importa: o certo é buscarmos a verdade, e procurarmos ser fiéis a ela, doa em quem doer. Não estou dizendo que devemos tratar mal as pessoas (muito pelo contrário!); mas devemos ser fiéis à verdade.

Isto ocorre quando, conforme diz a I Leitura, procuramos nos despojar do homem velho, e nos revestir do homem novo, à imagem do Criador; e assim, podemos, como diz a segunda estrofe do Salmo: bendizer a Deus com louvores (nossa vida deve ser tornar um louvor a Ele!), poderemos narrar (com palavras, e com nossa vida), o esplendor de Seu reino, e proclamar Seu poder! Quando conseguirmos cumprir isto, alegremo-nos e exultemos, pois, conforme a promessa do Senhor, grande será a nossa recompensa no céu! Ainda que possamos sofrer perseguições. Se o Senhor sofreu, não pensemos nós que estaremos livres delas...

Mas o Senhor é a nossa força!

 

1 Lembremos da Carta Encíclica Fides et Ratio, que diz: “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33,8; Sl 27/26,8-9; 63/62,2-3; Jo 14,8; 1Jo 3,2).”

Reflexões – Domingo, 08/09/2013 (parte 2)


Amigos,

Continuando do texto anterior.

Vejamos agora trechos do Salmo responsorial, Sl 89(90):

1. “Vós fazeis voltar ao pó todo mortal
      quando dizeis: ‘Voltai ao pó, filhos de Adão!’
      Pois mil anos para vós são como ontem,
      qual vigília de uma noite que passou.


2.   Eles passam como o sono da manhã,
       são iguais à erva verde pelos campos:
       de manhã ela florece vicejante,
       mas à tarde é cortada e logo seca.
 

3.  Ensinai-nos a contar os nossos dias
      e dai ao nosso coração sabedoria! (...)
 

4.  Saciai-nos de manhã com vosso amor,
      e exultaremos de alegria todo o dia!
      Que a bondade do Senhor e nosso Deus
      repouse sobre nós e nos conduza! (...)”


É uma verdade inexorável que nossa vida aqui na terra é passageira, e dura pouco, bem pouco... Sessenta anos? Setenta? Ou um pouco mais...? O que é isso perto dos cerca de 13 ou 14 bilhões de anos estimados para a idade do universo...? E quanto a toda a vida eterna que o Senhor nos reserva a junto a Ele...? No entanto, é nestes cerca de setenta anos que fica decidido a vida futura de cada um... É neste tempo que se deve tomar a decisão pelo Senhor: a cada dia devemos nos firmar nesta decisão!

Quando pensamos na grandeza de toda a criação, com seus mais de dez bilhões de anos, e mais ainda, na vida futura com o Senhor, quem pode achar que é o senhor da própria vida, e que tudo se resume a estes cerca de setenta anos...? Como apostar tudo somente no “aqui e agora”...? E depois, como fica...?

Percebemos como o autor sagrado conseguiu exprimir esta nossa realidade transitória aqui neste mundo (vide estrofes 1 e 2), e a sabedoria com a qual devemos viver nossa vida (estrofe 3, especialmente); sabedoria esta que devemos pedir ao Senhor.

Saibamos viver bem nossa vida, e que possamos, “caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”.

Reflexões – Domingo, 08/09/2013


Amigos,

Ao ouvir as leituras da Liturgia deste Domingo, logo pensei: dá uma boa reflexão para o Blog! Vejamos alguns trechos:

I leitura, Livro da Sabedoria (Sb 9,13-18): “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor? 14 Na verdade, os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas(...) 16 Mal podemos conhecer o que há na terra e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus? 17 Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito? 18 Só assim se tornam retos os caminhos dos que estão na terra(...)”.

O que o autor sagrado disse, nós vemos acontecer hoje, apesar de todo o avanço da ciência, e do conhecimento humano, em geral: mal conseguimos compreender este mundo material em que vivemos... No fim do século XIX, imaginava-se que as principais descobertas da física acerca da natureza já tivessem sido alcançadas, e que não restaria mais muito trabalho para os físicos, daquele momento em diante. De repente, houve grandes revoluções na física: teoria da relatividade e mecânica quântica; dois pilares da física moderna, que viraram tudo “de pernas para o ar”... Isto rendeu muito trabalho duro para os físicos do século XX (e ainda rende para os do século XXI)...

Outro fato é que imaginava-se que o universo fosse limitado à nossa galáxia; até que observações mostraram que havia algo a mais, além dela... Pronto: descobriram que ainda havia muito para ser descoberto. Hoje sabe-se que há aglomerados de galáxias, em larga escala, e observa-se objetos a bilhões de anos-luz de distância1

Mais recentemente, descobriu-se que a matéria que nós conhecemos (da qual é feita tudo o que se vê, desde as estrelas e galáxias, até os seres vivos e nosso corpo), soma cerca de 4,5 % do que existe no universo! Ou seja: nós desconhecemos do que é feito 95,5 % dele... Realmente, podemos repetir o que escreveu o autor sagrado, há milênios atrás (Sb 9,16): “Mal podemos conhecer o que há na terra e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos(...)”...

Mas esse maravilhar-se com a criação é saudável e faz parte da vida do ser humano, como diz a Carta Encíclica Fides et Ratio:

FR 4: “(...) Impelido pelo desejo de descobrir a verdade última da existência, o homem procura adquirir aqueles conhecimentos universais que lhe permitam uma melhor compreensão de si mesmo e progredir na sua realização. Os conhecimentos fundamentais nascem da maravilha que nele suscita a contemplação da criação(...)”

FR 17: “(...) Em Deus reside a origem de tudo, nele se encerra a plenitude do mistério, e isso constitui a sua glória; ao homem, pelo contrário, compete o dever de investigar a verdade com a razão, e nisso está a sua nobreza. (...) O desejo de conhecer é tão grande e comporta tal dinamismo que o coração do homem, ao tocar o limite intransponível, suspira pela riqueza infinita que se encontra para além deste, por intuir que nela está contida a resposta cabal para toda a questão ainda sem resposta”.

FR 21: “(...) E a força para continuar o seu caminho rumo à verdade provém da certeza de que Deus o criou como um ‘explorador’ (cf. Ecl 1,13), (...)”.

Porém, o trecho final da I Leitura mostra que Deus vem em socorro do ser humano. Isto se dá pela Revelação. Tem coisas que a nossa razão não consegue alcançar, às quais nós devemos assentir, devido à autoridade d’Aquele que diz; trata-se de verdades de fé: nós assentimos totalmente, porque sabemos que é digno de total confiança Aquele que fala, através das Sagradas Escrituras e da Sagrada Tradição, através do Magistério da Igreja.

Continua no próximo texto.

 

1 A velocidade da luz é de 300.000 km/s; um ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano (cerca de 9,5 trilhões de km); deixo aos leitores curiosos a tarefa de fazer as contas de quanto vale um bilhão de anos-luz...