Caros amigos, estou retornando depois de um longo tempo de "hibernação"!... Fica difícil conciliar estudo com qualquer outra atividade que requeira também uma certa dedicação, como a escrita e atualização de blogs. Entretanto, tentarei retornar sempre que possível.
Desta vez, o que me levou a "blogar" novamente foi a notícia sobre o aniversário natalício de Gregor Mendel, ou melhor, Pe. Gregor Mendel, considerado o pai da genética. Sei que já passaram alguns dias desta comemoração, mas nunca é tarde para uma reflexão a respeito.
Em 20 de julho último, comemoramos 189 anos do nascimento do Pe. Gregor Mendel. Isto me fez lembrar das aulas de ciências na época de escola, em que ouvíamos falar de suas experiências com cruzamento de ervilhas, o que o permitiu descobrir leis da genética. Não é pretensão minha, de forma alguma, falar sobre estas leis ou descrever suas experiências. Não sou da área, e lá se vão mais de vinte anos desde que concluí o segundo grau (que hoje se chama “ensino médio”...). Minha intenção é homenagear o sacerdote cientista, e fazer uma breve reflexão justamente sobre essa questão: sacerdote cientista.
É uma grande alegria saber que, assim como Pe. Mendel, houve tantos outros sacerdotes e/ou religiosos que também foram cientistas, e ainda há tantos outros hoje em dia, - basta procurar, por exemplo, no Observatório do Vaticano. Ao mesmo tempo, lamento só ter descoberto que se tratava de um sacerdote e religioso, depois de adulto... não me lembro de ter ouvido nada a respeito na época da escola.
Quanto à atuação da Igreja no vasto campo do conhecimento, percebe-se que foi ela que conseguiu resgatar e manter o conhecimento da antiguidade, durante a Idade Média, preservando-o das destruições causadas pelas invasões bárbaras em toda a Europa. Nos mosteiros, - que eram muitos -, havia os monges copistas, encarregados de copiar as obras que ali chegavam, de modo a preservá-las e encaminhá-las a outros mosteiros. O conhecimento era assim transmitido e preservado, através de múltiplas cópias de importantes obras. Nestes mosteiros, e nas dioceses, surgiram as primeiras escolas, e o papel da Igreja no ensino culminou depois na criação das universidades. Aliás, este é também um ponto importante: as universidades foram criadas pela Igreja!
Nestes mesmos mosteiros, grandes homens enveredavam pelos estudos não só em Filosofia e Teologia, mas em diversos campos do conhecimento, tendo contribuído para o avanço do conhecimento científico e desenvolvimento de técnicas para melhoria da produção de diversos artigos necessários à época, - ou seja, desenvolvimento tecnológico, com os meios então disponíveis, obviamente.
Que maravilha saber que foi em um mosteiro também, - apesar de ter sido já após a Idade Média -, que o sacerdote católico e religioso agostiniano, também professor de ciências naturais, Pe. Gregor Mendel, realizou os experimentos que levaram à descoberta de leis da genética.
Pe. Mendel, ao lado de tantos outros sacerdotes e/ou religiosos cientistas, são a prova mais contundente de que ciência e fé nada têm de antagônicas, muito pelo contrário! Na verdade se complementam. Já dizia o Papa João Paulo II, em sua Encíclica “Fides et Ratio” (Fé e Razão), que pode ser consultada na íntegra aqui:
“A fé e a razão são as duas asas com as quais o espírito humano alça vôo para contemplar a verdade”.
Ainda, a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, do Concílio Vaticano II, mostra que:
“Se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda: Aquele que tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são.”
E como disse Santo Agostinho, - que deu origem à ordem à qual pertenceu Pe. Mendel -, no Sermão 126,3:
“Eleva o olhar racional, usa os olhos como homem, contempla o céu e a terra, os ornamentos do céu, a fecundidade da terra, o voar das aves, o nadar dos peixes, a força das sementes, a sucessão das estações. Considera bem os seres criados e busca o seu Criador. Presta atenção no que vês e procura quem não vês. Crê naquele que não vês, por causa das realidades que vês. E não julgues que é pelo meu sermão que és assim exortado. Ouve o Apóstolo que diz: ‘As perfeições invisíveis de Deus tornaram-se visíveis, desde a criação do mundo, pelos seres por ele criados’ (Rom 1,20)”.
Segue uma cronologia da vida de Pe. Gregor Mendel, retirada da Wikipedia:
· 1822 - No dia 20 de Julho, nasce Gregor Johann Mendel na Silésia, na região de Troppau, filho de uma família de camponeses.
· 1841-1843 - Estuda dois anos no Instituto Filosófico em Olomouc.
· 1843-1854 - Torna-se professor de ciências naturais na Escola Superior de Brno.
· 1843 - Entra no mosteiro de Brno, onde passará a maior parte da sua vida e onde fará as suas famosas experiências.
· 1847 - É ordenado sacerdote.
· 1851-1853 - Estuda dois anos na Universidade de Viena história natural.
· 1853 - De volta ao mosteiro, dá aulas principalmente de Física.
· 1856 - Inicia as suas experiências nos jardins do mosteiro onde cruza as ervilhas e diferentes árvores.
· 1862 - com alguns colegas do mosteiro funda a Sociedade de Ciências Naturais.
· 1863 - Acaba as suas experiências em animais e plantas que duraram cerca de sete anos.
· 1865 - A 8 de Março e a 8 de Fevereiro apresenta à sociedade local o seu trabalho: "Ensaios com Plantas Híbridas".
· 1866 - Pública oficialmente o seu livro tendo muito pouco impacto na comunidade científica.
· 1868 - É eleito abade do mosteiro, após o que nunca mais pôde continuar as suas pesquisas devido às numerosas tarefas administrativas.
· 1871 - É nomeado presidente da Sociedade de Apicultura de Brno.
· 1873 - Mendel demite-se do cargo.
· 1874 - É reeleito, mas por razões pessoais não ocupa o cargo.
· 1884 - Morre a 6 de Janeiro de 1884 em relativa obscuridade, aos 61 anos de idade.
· 1900 - Os botânicos K. Correns (Alemanha), E. Tschermak (Áustria) e H. de Vries (Países Baixos) redescobrem o trabalho de Mendel, demonstrando a sua importância e estabelecendo as Leis de Mendel.
A relação entre ciência e fé, assim como a atuação da Igreja na Idade Média, são temas tratados nos livros de Felipe Aquino: “Ciência e Fé”, e “Uma história que não é contada”, assim como na bibliografia por ele citada em ambos os livros; além das referências da Igreja já citadas ao longo do presente texto. Em particular, há pesquisadores como Thomas Woods, Daniel-Rops e J. L. Heilbron, que tratam destes assuntos, podendo ser consultados diretamente. Thomas Woods escreveu um livro diretamente relacionado com o segundo livro de Felipe Aquino acima citado: “Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental”.
Graças a Deus por te chamado tantos homens para atuarem nos estudos e pesquisas em Filosofia, Teologia e nos diversos campos do conhecimento humano, tendo enriquecido a Igreja e toda a sociedade. Graças, em especial, pela contribuição da Igreja à construção da civilização moderna ocidental, que não existiria, - ao menos como nós a conhecemos -, caso não fosse a dedicação destes homens à geração, à preservação e à transmissão do conhecimento, pela criação das universidades, entre outros feitos. Como se trata de uma homenagem a um sacerdote cientista, cabe um reconhecimento particular àqueles com atuação em ambos os campos: da Fé e da Ciência.